Em contato com o livro de Gênesis, que sem rodeio já se
inicia dizendo: “No princípio Criou Deus
os céus e a terra...” (Gn 1.1), não há qualquer tentativa de se provar a
existência de Deus por meio de um ato racional, mas sim através de uma viva fé
em Deus. O Escritor aos Hebreus diz que os que se aproximam de Deus têm que
crer que Ele existe (Hb 11.6).
Não há como negar que Deus fez o homem com capacidade
reflexiva, pensante, racional, de modo que o tal vive neste mundo buscando
encontrar provas para tudo, inclusive para a existência de Deus, só que nesse
particular alguns são céticos, mas outros, com boa razão, frente a tudo que
existe, deduz que nada do que existe poderia surgir por si próprio a não ser
por meio de um grande arquiteto: Deus.
A história mostra santos homens piedosos de Deus como
Anselmo e Tomás de Aquino que buscaram provar a existência de Deus por vias
racionais, sendo que um se distancia do outro por quase dois séculos, não
fizeram isso de modo aleatório, sem base, mas sim respaldados na Palavra e nas
obras divinas, ou seja, a criação.
Tomás
de Aquino, um italiano, tentando provar a existência de Deus, fez isso através
da apresentação de cinco pontos racionais em parte de sua obra chamada Suma Teológica. Alguns estudiosos são
contra o modo que Tomás tentou provar a existência divina, todavia, temos que
entender que não há nada de errado em usar a faculdade racional, posto que ela
é um dom de Deus ao homem. Através dela o ser humano pode avaliar, julgar, fazer
juízo, como também manifestar bom senso.
Quando Paulo escreve sua carta aos cristãos de Roma, ele
mostra que foi a falta de um olhar racional do homem que o fez tomar o caminho
da devassidão, depravação, pois não reconhecia nem via Deus em nada, de modo
que se tornou alienado de Deus (Rm).
Vamos então apresentar as cinco vias de Tomás de Aquino,
nas quais ele busca provar a existência divina por meio da razão:
a-
Primeiro
Motor. Em relação a esse
tópico dizia que Deus é um ser movente que não precisa ser movido por outro
ser, se esse ser não existisse seriamos seres indefinidos (Jo 5.26).
b-
Causa
eficiente. Temos
que concordar que existe uma causa primeira, uma causa eficiente e essa causa
primeira é Deus. Tudo que existe no mundo não existe por si mesmo e sim por uma
causa eficiente (At 17.32).
c-
Ser
contingente e ser necessário.
Já falamos que o ser necessário é Deus, Ele é a razão da existência de tudo,
existe por si mesmo, é absoluto, é a causa da existência dos seres contingentes
(Sl 8.5;At 17.28).
d-
Graus
de Perfeição. Nesse
ponto dizia que existe o mais ou o menos, ou seja, existem graus de perfeição,
uma coisa pode ser mais bela, mais feia, mais verdadeira, mais forte, mais
fraco; então, sendo assim, podemos dizer que existe um ser que está em uma
categoria maior e melhor, em um estado de perfeição absoluta (Mt 5.48). Deus é
a máxima da verdade, do amor, da beleza, do poder, da força, Ele é um ser
pleno, total, completo (Tg 1.17).
e-
A
Finalidade do ser.
Para o Teólogo Tomas de Aquino, tudo que existe na natureza que não possui
inteligência própria tem uma função a cumprir em relação à natureza, um
objetivo, um alvo a atingir, então, existe um ser inteligente que está no
comando, na direção de tudo, isso para que eles cumpram o seu objetivo, seu
propósito, já sabemos que esse ser é Deus.
Grande foi a contribuição desse
filósofo e teólogo para a história da Igreja, seu mérito nesse particular é
inquestionável, como dizia Jacques Maritain a respeito do pensamento de Aquino:
“Não só transportou para o domínio Cristão a
filosofia de Aristóteles na sua integridade, para fazer dela um instrumento de
uma síntese teológica admirável, como também ao mesmo tempo superlevou e, por
assim dizer, transfigurou essa filosofia. Purificou-a de todo o vestígio de
erro, sistematizou-a poderosa e harmoniosamente, aprofundando-lhe o princípio,
destacando as conclusões, alargando os horizontes, e se nada cortou, muito
acrescentou, enriquecendo-a com o imenso tesouro da tradição latina e cristã.”
Para alguns, Aquino era chamado de doutor
angélico ou doutor por excelência. Mas
tem aqueles que não concordam com tal mérito aplicado a ele, como por
exemplo o filósofo Bertrand Russel, que questiona os méritos que são aplicados
a esse filósofo, veja o que ele diz:
“Há pouco do verdadeiro espírito filosófico
em Aquino, não está empenhado numa pesquisa cujo resultado não possa ser
conhecido de antemão. Antes de começar a filosofar, ele já conhece a verdade,
está declarada na fé católica. Se, aparentemente, consegue encontrar argumentos
racionais para algumas parte da fé, tanto melhor; se não, basta-lhe voltar de
novo à revelação. A descoberta de argumentos para uma conclusão de dada antemão
não é filosofia, mas uma alegação especial. Não posso, portanto, admitir que
mereça ser colocado no mesmo nível que os melhores filósofos da Grécia ou dos
tempos modernos.”
Sabemos que nos períodos da Renascença
como também da Idade moderna continuaram a questionar o mérito aplicado a Aquino,
todavia, mesmo diante de tais concepções ninguém pode negar que ele foi um
grande pensador no período Medieval.
Na
linha teológica de Aquino não existe o que pode ser denominado de regresso
infinito, todavia, toda causa tem um efeito e, ademais, o regressar de qualquer
coisa sempre vai esbarrar no ser eterno: Deus, o criador de todas as coisas.
Para entendermos
melhor esse assunto basta pensarmos em uma bonita cadeira feita de matéria e
que passou por diversas transformações até que chegasse à sua perfeição, mas no
seu regressar não existe uma infinitude sem causa e efeito, na verdade, ficará claro que Deus é o criador da matéria da qual ela é
feita.