quarta-feira, 3 de junho de 2020

A razão do ser do racismo



Da perspectiva científica e biológica, todos nós seres humanos viemos de um mesmo tronco, da mesma raiz, e como bem assinalou H. Nesturkh, as raças humanas têm origem comum e são variantes duma só espécie. Biologicamente, a partir do nível da evolução física de seus representantes, nenhuma é superior à outra.
Essas assertivas nascem de fora, não estão atreladas a vieses religiosos, nem a qualquer movimento de luta negra, mas são ratificações cientificas que esclarecem a origem do homem. No que tange ao aspecto bíblico quanto à temática ora em apreço,  esse livro harmoniza-se plenamente com a ciência, dizendo que de um só Deus fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação (Atos 17.26).
Através da unidade da origem da raça é que pode se compreender as semelhanças entre os seres humanos, tanto no aspecto psicológico, biológico, morfológico, religioso, as raras e pequenas diferenças existentes são apenas no aspecto anatômico, que são secundárias, e servem apenas como sinais distintivos.
Já que qualquer livro de biologia começa suas seletivas páginas evidenciando que todos vieram de uma mesma origem, então porque o racismo é tão presente no mundo, originando-se de pessoas que se dizem intelectuais, líderes, presidentes? Na verdade, o que acontece é que se arquitetou um discurso por meio de pessoas que se dizem sábias e que argumentam que as raças não têm uma origem comum, mas que são determinadas por vários genes. Passaram a falar de modo errado sobre a questão taxonômica, sobre ciência ou técnica de classificação.
Com essa dialética traçada e projetada passou então a difundir-se que os agrupamentos humanos envolviam caracteres diferentes em diversos aspectos, e que desta maneira nem todas as pessoas seriam iguais, não teriam a mesma origem, eram estranhas umas das outras. É a partir desta filosofia partidária, sinistra, desumana, ardilosa, fúnebre, que discurso sobre raças superiores e inferiores são feitos.
Mas novamente interpelamos: por que montar tal discurso? Não é difícil responder, com a ideia de uma raça inferior, retardada, desprovida de certo nível de inteligência, de cultura, predestinada a sofrer, fadada à escravidão, à exploração, o palco facilmente é montado para que a dita raça superior massacre, domine, escravize os inferiores.  
Com a bandeira do racismo hasteada, não demora para que em países, Igrejas, famílias, Escolas, dentre outros agrupamentos, comecem a emergir aqueles que são apologistas do discurso de uma raça melhor, superior, potente. Foi com esse sentimento de busca por uma raça superior que a figura desumana, brutal de Adolfo Hitler surge. Quem conhece a história desse homem o tem como um monstro, mas é bom lembrar que sua monstruosidade foi criada por um discurso forjado por mentes desumanas.
A ação desumana, incivil, do policial branco Derek Chauvin contra o negro George Floyd, numa pose, isto é, com mão no bolso e o joelho pressionado contra o pescoço de Floyd por vários minutos e outros policiais assistindo tudo passivamente, não é mero fruto de uma casualidade aleatória, mas firma-se em um discurso de que a vida negra não faz sentido, não tem valor, pois é um ser que foi destinado à miséria, desgraça, que não merece viver. A mente do policial americano está envenenada pelo discurso da raça superior, e esse é o discurso que emana dos lábios dos líderes e de muitos liderados americanos.
Os racistas vão cada vez mais se estruturando com seus discursos negativos e desumanos, dizendo que por meio deles vem o avanço tecnológico, científico, a civilização, as riquezas materiais, por isso eles podem ser os mandatários, ao passo que a raça inferior só deve ser útil para desempenhar a mão de obra escrava, não podem contribuir com nada, pois são seres desvencilhados da cultura, inteligência, nasceram para serem humilhados, dominados.
Pelo discurso dos apologistas racistas, a evolução social não exerce poder nos caracteres sociais, mas são as qualidades inatas, biológicas da raça que fazem com que haja o progresso ou a queda de um determinado grupo social. Observe que com tais argumentos fantasiosos e mentirosos os racistas rentam alterar as coisas, transformando a teoria da história em um doutrinamento físico e psíquico.
Não há provas históricas e antropológicas que confirmem que a evolução de um povo ou nação se deu através de uma raça superior, nem tampouco pelo nível cultural das dimensões dos cérebros, como desejam afirmar os racistas, se isso fosse verdade não poderia haver progresso na civilização egípcia, onde homens e mulheres tinham crânios pequenos, o que os colocariam em desvantagem, mas quem conhece a história sabe do progresso do Egito.
É ainda falso e maldoso o discurso dos racistas em querer dizer que a evolução de uma civilização acontece através de uma raça superior, a história nos mostra o contrário: enquanto que os romanos eram poderosos, bem desenvolvidos, os germânicos eram vistos como bárbaros, mas não demora muito para que eles avancem e cheguem a ser uma grande civilização, e fica obvio que tal fato não se deu por questões raciais, mas sim por questões econômicas e sociais.
Portanto, a razão do ser do racismo firma-se em discursos apologéticos que dão ênfase a desigualdade oriunda da biologia das raças, o que por meio de tais ensinos ou doutrinamento torna-se mais propício a aceitação de que há uma raça superior e outra inferior. Observe que os racistas mudam tudo com o intento de impor sua dominação sobre os outros, suas leis mais severas sobre os mais fracos, o que dá motivo para guerras, ódio, segregação.
O que nós negros de fato desejamos é que todos nos vejam como seres iguais, semelhantes, independentemente da cor ou da função que exercemos. O que queremos é que o discurso da raça superior, de seres melhores que os outros seja desfeito. Que nas Escolas, ruas, praças, Igrejas, parlamento, todos sejam vistos como seres da mesma espécie.
Henri Lefebvre está certíssimo quando, falando da dialética do desenvolvimento humano, diz: o homem só poderia ter se desenvolvido através de contradições; portanto, o humano só poderia ter se formado em oposição ao desumano, inicialmente misturado com ele, para em fim ser discernido através de um conflito e dominá-lo pela resolução desse conflito.  Não se pode mais ver em pleno século vinte um atos desumanos, visto que já houve uma evolução histórica que levou o homem a deixar seu estado selvagem, bárbaro e agora vive sua plenificação consciente. Enquanto não houver destruição do discurso racista maléfico de uma raça melhor, o litigio irá continuar.
Osiel Gomes

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Entre Rios


Entre Rios

Vivemos tempos em que se visibiliza uma sociedade que se diz evoluída, transformada, em pleno progresso, porém, em sua obviedade o que se lobriga é uma sociedade dominada pela segregação, divisão de classes, sede de poder, ganância, que faz uso de ideologias para dominar as massas mal estruturadas, as quais sempre foram instrumentos de manipulação por parte dos poderosos, sendo úteis apenas para consecução de seus maléficos objetivos, não querendo que as mesmas se sobressaiam, que cresçam intelectualmente, contendo-as com políticas fragmentárias, a exemplo de pão e água.
            É sabido que as primeiras civilizações humanas viviam entre rios, no aspecto simbólico rio fala de vida, grande quantidade de qualquer coisa, mas a ênfase que desejo dar aqui é ao fato que o homem teve um habitat agradável para se desenvolver, crescer, fluir, entretanto, o que era para ser motivo de vida, alegria, prazer, tornou-se fonte de intricados conflitos, guerras, pois quem habitava próximo ao rio, desfrutando de uma localização fértil sofriam ataques daqueles que são ávidos, que querem apossar-se do que é dos outros.
            O berço da civilização humana é essa terra entre rios (Tigres e Eufrates), Mesopotâmia, palavra grega que é composta, pois méso quer dizer meio, ao passo que potamós é rio, o que resulta de terra entre os rios. Na concepção de diversos estudiosos, historiadores, antropólogos, afirma-se que o surgimento do homem se deu na dita região da Mesopotâmia.
            Os povos que primeiramente habitaram nessa região foram os sumérios (4000 a 1900 a. C), eles ficavam na parte da região pantanosa, quem sabe a geografia prontamente entende que atualmente hoje essa região é o Iraque. Podemos falar também dos Sumérios, a importância desse povo é inegável, visto que deles veio a escrita, suas cidades Estados eram Ur, Nipur, Uruq. Não podemos também deixar de citar os babilônicos (1900 a 12000 a. C), também há louvores para com esse povo, pois deles originou-se um conjunto de leis escritas denominadas Código de Hamurabi, que é assim denominado por causa do rei Hamurabi, um rei babilônico que por seu grande poder conquistou a Suméria em 1750 a. C.
            Para efeito de lembrança ainda destacaremos mais dois povos que habitavam nessa região, primeiramente os assírios (1200 a 612 a. C.), que destacaram-se logo quando começaram a dominar certas regiões vizinhas da Babilônia, a fama que eles tinham era de poderosos, fortes e cruéis, mas apesar disso não demorou para que se tornassem dominados pelos caldeus, que estavam em ascensão. Por fim, destacamos os caldeus (612 a 539 a. C.), podemos dizer que os caldeus foram os últimos povos a habitar a região da Mesopotâmia, o crescimento e viço deu-se através da grande monarca Nabucodonosor, que por meio de sua força e poder conseguiu invadir a Babilônia e criou um segundo Império Babilônico, mas também esse poder será dizimado através da ação dos persas, comandados pelo rei Ciro.
            Quando olhamos para a sociedade da Mesopotâmia observamos divisão de casta ou estamento. Tinha-se a presença dos sacerdotes, aristocratas, os militares e ricos comerciantes que dominavam e controlavam toda a sociedade, isso porque possuíam o poder religioso, militar e econômico nas mãos, de modo que obrigavam os camponeses, artesãos e escravos a estarem sujeitos às suas regras impostas, não dando a eles nenhum tipo de direito.
            Pelo exposto acima entendemos que essa região era promissora e fértil, foi o berço da humanidade, era propícia para se viver, pois as riquezas naturais eram grandiosas, permitindo ao homem a capacidade de criação de animais, fundações de cidades, desenvolvimento da agricultura, visto que devido a fertilidade do solo por causa do ciclo das cheias do rio, que potencializava o material orgânico que permitia riqueza.
            Mas o que era para ser fonte de vida, de riqueza, tornou-se um lugar de constantes guerras, pois cada povo ali presente queria dominar a região, ter mais poder, riqueza. A partir de 2.500 anos a. C., as guerras, batalhas nessa região tornaram-se comuns.
Através dos entraves dessas guerras, cada um buscando sua hegemonia, estabelecer seu poder, ganhar mais riqueza, não se importavam com as vidas humanas, o que deveria prevalecer era a economia, a riqueza, o poder a glória.
            Diante desse panorama histórico o que desejo salientar é que estamos vendo o mesmo cenário, o que muda são os personagens.  Na atual conjuntura social o homem nunca deixou de ser e estar dominado pelos mesmos desejos que os primeiros povos primitivos tinham. O projeto de se armarem era com fins propriamente egoísticos, não para preservar vidas, mas sim para tornar exércitos poderosos e dominar os mais fracos. Buscavam o conhecimento o desenvolvimento para poderem oprimir a classe mais pobre. Os povos que queriam grandeza, expansão, não mediam esforços para matar, destruir, sem atentar para qualquer valor humano.
            O que poderia ser belo entre os rios, tornou-se um cenário modelo para imprimir ao mundo o que fazer para tomar o espaço melhor do outro, como desenvolver nas artes para dominar outras classes, outros povos. Assim, entendemos que a sociedade atual, ainda que revele um ato grau de evolução tecnológica, política, religiosa, cientifica, está dominada ainda pelo mesmo sentimento das primitivas civilizações. Pergunto: por que os homens brigam? Porque as nações brigam? Por que líderes brigam? A resposta a essa questão é uma só: sede pelo poder, sede para dominar, sede para escravizar.
            Há que se dizer que as guerras não são produzidas por pequenas classes, elas não se originam de tintas de obras filosóficas; o preconceito, racismo, ato de humilhação, a falta de idiossincrasia, é fruto apenas da ganância e do poder do homem em querer ser grande e poderoso. Olha para os homens mais cruéis da história, como por exemplo, Hitler, porque eles matavam?
            O que psicólogos, sociólogos, psicanalistas têm procurado entender quanto à natureza humana é o porquê dos seres semelhantes serem tão diferentes, ainda não se tem a resposta, é claro, Karl Max negou e era furioso quando se falava em pecado original, porém, não há outra resposta. O apóstolo Tiago deixa clara a razão pela qual os homens brigam e escravizam os outros. De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão dos prazeres que militam na vossa carne? (Tiago 4.1).
Osiel Gomes.

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Rachaduras na casa



            O homem, apesar de seu grandioso avanço, ainda orbita em torno das mesmas implicações e questões que são incógnitas para suas potencialidades mentais, intelectuais e espirituais. Para um ser tão engenhoso e cheio de ideias, invenções, pensamentos, criatividades, queima no seu interior a busca incessante para uma conscientização subjetiva de sua gênese seu itinerário final, o que lhe deixa em angústia.
            A busca por saber da fixação de sua casa, isto é, a sua essência e existência neste universo imenso se dá através da linha do tempo, que traça o surgimento do homem até o presente momento, desde os períodos históricos entendidos como Pré-história, Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna até a Idade Contemporânea.
            Nessa tessitura se engendrará um anelo para se compreender a existência do homem ao longo do tempo, a começar pela Pré-história (3.500 a.C), diz-se que o homem surgiu na terra há 3 milhões de anos, e que vai até ao tempo da escrita (3.500. a. C).
            O primeiro grande problema na Pré-história, é que por meio dos conteúdos pedagógicos e científicos que se propagam  nos ensinos médios e centros universitários, a ideia ou conotação de explicações não cientificas, não comprovadas, mas apenas teorizadas, firmadas em meras e funestas suposições, as quais são deletérias para o aspecto de humanização, isso porque esse será o primeiro caminho a ser percorrido para que a base racista tenha sua estrutura e comece assim a dar rachaduras na casa, posto que o alicerce no qual tudo será construído é mal estruturado.
            Segundo teorias, o primeiro homem se assemelha a um símio, por meio de processos naturais vai se desenvolvendo, primeiramente ele deixa de ser um Australopithecus, que era igual a um macaco (3 milhões de anos). Em seguida vem o Homo Habilis (2 Milhões de Anos), esse com um certo avanço já tem a capacidade para ir um pouco mais adiante, pois inventa as primeiras ferramentas e as usa. Homo Erectus viveu de pé, viveu há um milhão de anos, avançando um pouco mais, soube fazer bom uso do corpo, por fim vem o homo sapiens, esse já sabia lidar melhor com sua capacidade física e mental, é dele que vem o homem moderno, o qual surgiu entre 37 mil e 10 mil anos atrás, segundo alguns arqueólogos ele é denominado também de Homem de Cró-Magonon.
            Ainda nas fragmentárias explicações sobre a origem do homem, as teses vão se avolumando para simplesmente dizer que tudo começou assim, expondo o surgimento do homem em um cenário de estupidez plena, por isso que se fala de uma Pré-história em dois momentos, Idade da Pedra e Idade dos Metais. Na primeira o homem é apresentado como fazendo uso de materiais feitos de pedras, caso ele fizesse uso das pedras em seu aspecto natural, sem nelas operar qualquer efeito. Nessa fase o homem não sabia nem sequer lidar com um animal, não sabia trabalhar a terra na qual pisava, será somente no segundo momento dessa primeira fase, chamada de Neolítico (Idade da Pedra Polida), que o mesmo saberá lidar com a natureza, fazendo uso de seus elementos, fazendo modificações, alterações, tudo voltado para o seu próprio uso, benefício. Ele sairá da posição de nômade, pois doravante sabe fazer uso da terra para fazer plantações e lidar com a cria de animais, de modo que não será mais um andarilho que andava em busca de comida para si mesmo, pois agora sabe transformar seu modo de vida.
            Mas na Pré-História o homem caminha da Idade da Pedra para a Idade dos Metais, é lá pelo inicio do quarto milênio antes de Cristo que essa grande conquista acontecerá, pois agora o homem deixará de usar a pedra para lidar com cobre, bronze, assim a partir desse átimo ele fabrica suas peças com tais coisas, abandonado a pedra, e daí acontece o fim da pré-história e o surgimento da escrita.
            Dessa forma os livros a narram a história do homem na terra, e podemos asseverar que tais explicações além de não serem cientificas são opacas à luz do que relata a Bíblia, que dá um surgimento lindo e maravilhoso do homem, não o colocando em uma posição de inferioridade, vendo-o como um animal irracional até sair de sua barbárie.
            Primeiramente a Bíblia fala do homem como uma criação inteligente, visto que o mesmo foi feito à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.27), do hebraico a palavra imagem é tselem, fala de figura, já a palavra semelhança é demuth, similaridade, à semelhança de, como... Há no ser humano traços da divindade absoluta Deus. O salmista Davi diz que o homem é um ser menor que os anjos, mas no campo terreno o mesmo é a coroa da criação. Falando dessa imagem de Deus no homem o comentário Beacon (2005, p.33) diz:

Esta criatura tinha de ser diferente. Deus disse que o homem tinha de ser feito à nossa imagem, tendo certa semelhança com a realidade, mas carecendo de plenitude. O homem devia ser conforme a nossa semelhança, tendo similitude geral com Deus, mas não sendo uma duplicata exata. Não era para ele ser um pequeno Deus, mas definitivamente tinha de estar relacionado com Deus e ser o portador das características distintivas espirituais que o marcam exclusivamente como ser superior aos animais. Em 1.26-30, encontramos “O Homem Feito á Imagem de Deus”. 1) Um ser espiritual apto para a imortalidade 2) Um ser moral que tem a semelhança de Deus 3) Um ser intelectual com a capacidade da razão e de governo. Uma das marcas da imagem de Deus foi Ele ter dado ao homem o status e o poder de governar. O direito de o homem dominar, ressalta o fato de que Deus o equipou para agir como governante.

Os capítulos 1-2 de Genesis não apresentam um homem nômade, um símio, e que também sabia lidar com a terra e os animais, pois eram funções exercidas pelos dois filhos de Adão e Eva (Gn 4.2), ainda está claro em Gênesis 4.22 que já sabiam fazer uso do bronze.
O alicerce correto para falar do surgimento do homem em escolares seculares e em centros universitários seria o texto de Genesis, o qual dignifica o homem e o coloca como um ser sublime, superior ao seu meio, mas tais conotações não cabem em mentes que desprezam o sobrenatural divino, isso porque não veem nada de científico na exposição mosaica, se esquecendo de que isso transcende a ciência, mas que coloca o homem em um platô mais digno que qualquer outro relato ou explicação de seu surgimento.
Se o criacionismo fosse difundido no seio da humanidade não haveria espaço para preconceito e racismo, pois de um homem só fez toda raça humana (At 17.26). Como todos vieram da mesma fonte, Deus, todos são capazes e possuem direitos iguais, mas devido aos péssimos alicerces que foram construídos ao longo da linha do tempo, se percebe o descaso com a vida humana, o que impulsiona conflitos e interesses marcados pele sede do poder.


Pr. Osiel Gomes

domingo, 21 de agosto de 2016

Doutrina da predestinação

A DOUTRINA DA PREDESTINAÇÃO
Introdução
Quem entende a natureza divina, que só pode ser mediante a revelação do Espírito de Deus (1 Co 2.10), jamais terá o tema da predestinação como algo estarrecedor, tristonho, mas sim de alegria por saber que Deus é justo e que deseja a salvação de todos os homens (1 Tm 2.4).
Foi um ato de grande amor Deus eleger Jesus para ser nossa propiciação (Rm 3.25; 1 Jo 4.10), e planejar de modo maravilhoso, através de seus atos, meios de conduzir os homens ao seu propósito divino (Rm 8.28.29). Na verdade, a predestinação à luz da Bíblia jamais interfere nas escolhas dos homens, mas previamente ela o leva a inclinar-se a buscar um bom e verdadeiro relacionamento com Deus.
1 Definição de predestinação à luz da Bíblia
A palavra predestinação fala de determinar previamente o destino das pessoas. O termo grego proorizo pode nos ajudar a entender melhor esse assunto, pois significa marcar antecipadamente, com antecedência. Cristo foi previamente determinado a sofrer e morrer por nós na cruz (At 4.28; 1 Co 2.7). Todos quantos foram eleitos por Deus são predestinados a serem filhos por adoção (Ef 1.5; Rm 8.28-29).
2 Predestinação bíblica: um plano perfeito de Deus
2.1 A sabedoria divina presente na predestinação
Na predestinação bíblica está inclusa a sabedoria de Deus, inclusive a busca de sua glória, pois quanto mais vidas se salvarem ao aderirem aos propósitos divinos, mais glória será para Deus, pois prova que os pecadores entenderam seu plano salvador. Servir e adorar um deus que separa uns para vida e outros para morte prova quanto ele não é sábio, nem seus planos perfeitos.
A predestinação não deve ser temida pelos cristãos verdadeiros, pois ela é uma bênção de Deus para nós, posto que não se trata de um fatalismo radical, de um determinismo absoluto, não dando permissão de escolha por parte do homem. A predestinação à luz da Bíblia está firmada nos “Atos de Deus”, isto é, se o homem fizer a escolha certa, a ação divina influenciará em sua atitude.
2.2 A causa dos males no mundo
Para entender tais assuntos dentro do contexto bíblico basta tão somente que cada pessoa atente para o próprio mundo em que vive. Nosso mundo é dirigido pela lei da gravidade: caso alguém que esteja dentro de um carro em alta velocidade resolva  saltar dele, a morte será certa. Assim, nesse caso fica evidente que foi sua decisão escolher a morte, a culpa não é de Deus.
A causa de o mundo viver no sofrimento espiritual e até físico deriva da escolha de Adão, que desobedeceu às ordens divinas, por isso a Terra está em maldição, aguardando sua redenção (Rm 8.22,23). Desastres naturais, dores, enfermidades, cansaço, isso não acontece pela escolha própria do indivíduo, mas por causa do pecado de Adão.
Entendemos algo interessante quando lemos Gênesis 1.30. Está claro que Deus fez tudo bom, perfeito, mas que, por causa do pecado, os males físicos e espirituais entraram no mundo, quem quiser vencê-los precisa apegar-se a Deus, pois somente Dele é que tudo pode voltar à perfeição (Ap 21.5).
2.3 A bênção consoladora da predestinação
Por meio da predestinação de antemão Deus planejou a salvação de toda humanidade, de modo que ninguém pode dizer que não é salvo porque foi excluído do projeto divino. Lucas diz que todos podem ser salvos, desde que busquem a Deus com sinceridade (At 4.27,28). Paulo diz que ninguém pode alegar ou acusar a Deus de injusto, de não lhes dar oportunidade de salvação (At 17.27; Rm 1.20).
A bênção da predestinação está firmada no fato de Deus providenciar recursos que conduzam o homem ao entendimento do seu plano salvador. A predestinação pode ser vista também como uma bênção consoladora porque visa a levar o cristão ao verdadeiro crescimento espiritual: a ser como Cristo Jesus (Rm 8.29; 1 Jo 3.2).
A predestinação foi algo projetado por Deus lá na eternidade, mas só pode ser compreendida por aqueles que realmente procuram servir a Deus em espírito e em verdade, posto que desse modo está pronto para corresponder ao que Deus preparou de antemão, que jamais a mente humana pôde entender. Podemos dizer que a predestinação leva o crente sincero a glorificar a Deus, por entender que todos os seus planos são perfeitos (Jr 15.19; 1 Co 2.9; Ef 1.5,11,12).
3 Atendendo ao chamado divino
3.1 Os atos da graça
Jesus foi ofertado por Deus ao mundo (Jo 3.16.), mas cabe ao homem reconhecer ou não a bondade e a misericórdia divina, pois Deus não força ninguém a receber seu Filho como salvador. Porém, Ele concede o Espírito Santo e sua graça para convencer o pecador, mostrando as bênçãos maravilhosas que podem desfrutar todos quantos aceitarem a Cristo.
Todos são convidados a gozar das bênçãos gloriosas que Jesus, como o presente ofertado dá a todos (Mt 11.28,29). Como o homem está vivendo no pecado, tendo sua mente poluída, está morto espiritualmente, não tendo como reconhecer o grande valor do sacrifício de Jesus e para atender ao chamado divino Deus lhe concede os atos da graça.
Por mais que o homem estude, faça curso de teologia, tenha grandes conhecimentos, nada disso lhe levará ao conhecimento verdadeiro de Deus, pois ninguém pode conhecê-lo apenas por seus esforços, porque o conhecimento de Deus se dá por meio de sua revelação (Mt 16.16). Paulo conheceu a Cristo não por causa de sua tradição judaica ou conhecimento, mas sim por causa da revelação de Jesus (Gl 1.12).
Morto espiritualmente não tem como o homem iniciar sua própria salvação, por isso precisa da ajuda divina, e é isso que Deus, com seu grande amor, concede essa ajuda (Ef 2.1,8,9). Paulo diz que o homem pecou, dessa maneira se encontra separado e morto espiritualmente diante de Deus, incapaz de autossalvar-se (Rm 3.11, 23).
Como o pecado separa o homem de Deus, ele jamais pode aproximar-se Dele, mas Deus pode se aproximar do homem por meio de Jesus Cristo (1 Tm 2.5). O aproximar de Deus ao pecador se dá por meio do sacrifício de Cristo e pela capacidade restaurada que Ele concede ao homem para que ele entenda o plano da salvação e volte-se para o seu Pai (Rm 5.6; Jo 6.44).
3.2 Compreendendo o plano divino da salvação
No desejo de salvar o homem, Deus providenciou todos os meios para que ele chegasse à compreensão do seu plano divino, por isso enviou profetas, pregadores, operou milagres, e, por fim, fez com que o verbo se transformasse em carne para que na sua totalidade o homem chegasse ao completo plano da salvação (Jo 1.14; Gl 4.4).
Não há desculpas, o homem pode responder ao chamado de Deus, o qual é universal e resistível. Pela Bíblia está provado que o desejo de Deus é que todos sejam salvos (1 Tm 2.4; 2 Pe 3.9), por isso ordenou aos seus servos que pregassem o Evangelho a toda criatura (Mt 28.19; Mc 16.15), observe que isso deve ser feito até por meio de persuasão (2 Co 5.11).
É bom entender que na universalidade do convite divino não existe qualquer resquício de seletividade, desigualdade, preconceito, todos, sem exceção, são chamados a desfrutar das bênçãos divinas por Jesus Cristo (Mt 11.28; Jo 3.16; Is 55.1).
Jesus foi ofertado por Deus ao mundo para salvação de todos, mas ninguém é obrigado a aceitá-lo, isso deixa claro que o homem pode resistir à bondade de Deus. Essas questões nos levam ao seguinte entendimento: Deus oferta a dádiva da salvação a todos, mas nem todos serão salvos, não porque Deus não queira, mas porque o homem rejeita.
3.3 Distinguindo o chamado
A redenção operada por Cristo como o chamado de Deus é para todos, mas a eficácia de ambos só é possível na vida daquele que se rende ao projeto divino, que realmente crê em Cristo Jesus como o cordeiro enviado para redimir o pecador. A palavra de Deus releva toda a bênção que está presente em Jesus (Ef 1.3). Os pregadores estão falando do propósito de Deus para todos quantos se renderem ao convite de Cristo, mas muitos rejeitam, conforme Jesus falou (Jo 5.40).
Em diversas passagens bíblicas está claro como o homem tem desprezado o plano da salvação, resistindo ao Espírito Santo, que é quem opera no ato da nossa salvação (Jo 16.6-8). Ao longo de toda história humana o homem tem rejeitado o grande amor de Deus, o qual é revelado em Cristo Jesus (At 7.51; Rm 10.21; Hb 10.29).
É bom fazer distinção entre os chamados, a Bíblia fala do chamado para salvação, arrependimento, fé (Mt 3.2; 2 Pe 3.9; Rm 10.9; 1 Jo 3.23). Deus não nos chama apenas para a salvação, Ele nos chama também para vivermos em santidade (1 Co 1.26), mas existe o chamado divino para ministério específico (Rm 1.1).
4 A predestinação revela a graça de Deus
4.1 A predestinação bíblica não é determinista
Muitos não entenderam, nem entendem, de modo preciso o que de fato é o plano da salvação exposto na Palavra de Deus, por isso têm tratado a salvação como sendo algo predestinado, ou melhor, no seu aspecto determinista, afirmando que uns foram escolhidos por Deus para serem salvos e outros condenados, excluindo assim a participação do homem na escolha do grande salvador.
A salvação é descrita nas páginas da Bíblia como sendo algo que demonstre a graça de Deus, o homem responde a essa graça através da fé, que é resultado da operação divina no seu coração, capacitando-o a render-se a Jesus. Os que seguem o ponto de vista determinista passam a entender o amor de Deus como algo que foi manifesto lá atrás, e a eleição é algo que parte apenas do absolutismo divino, pautado em sua soberania, que não leva em consideração os atos dos homens.
4.2 Os perigos da predestinação determinista
Os deterministas não olham para a predestinação bíblica apenas como um plano maravilhoso de Deus, que foi feito de antemão envolvendo seus próprios atos, buscando o bem espiritual do homem; antes, afirmam que antecipadamente Deus decretou tudo o que vai acontecer com o homem nesta Terra, inclusive quem será salvo e quem não o será.
Esse posicionamento é muito perigoso e sem qualquer atitude amorosa divina, pois nesse caso se o homem atender ao chamado de Deus não será por meio de um esforço sincero, visto que a salvação não é para todos. Todavia, o chamado só terá validade de fato para aqueles que, na verdade, já foram predestinados à salvação.
Muitos veem o chamado divino apenas como um mecanismo que Deus usa para chamar os eleitos, aqueles que serão salvos. Nesse caso somos levados ao seguinte pensamento: já que não fazemos nossa escolha no que tange a aceitar ou rejeitar Cristo, os que são predestinados jamais podem perder sua salvação.
4.3 A predestinação fatalista
A doutrina da predestinação fatalista é sem lógica, porque cria um tipo de deus que não tem sabedoria, que é louco, pois já destina no seu mundo eterno quem vai ser salvo e quem vai perecer sem salvação. Essa predestinação não dá chance sequer para quem deseja a salvação, negando-lhes o presente divino: Jesus. A predestinação fatalista deixa claro que muitos já vieram ao mundo para serem objetos da condenação divina.
Os que seguem essa linha de pensamento firmam-se na teologia de João Calvino, por isso são denominados calvinistas. Porém, através de uma leitura bem cuidadosa dos textos bíblicos é possível entender que tal pensamento não segue uma lógica bíblica, mas que é apenas invenção de homens.
Certa vez alguém perguntou se eu era calvinista ou arminiano, ao que respondi a ele: Sou cristão (At 11.26). A igreja primitiva não seguia essa linha de pensamento, dizendo que uns foram escolhidos para serem salvos, e outros para serem condenados, sem chance de salvação, mas sim pregava o evangelho para salvação de todo pecador.
Quero dizer que existem opiniões que são apenas coisas de homens querendo entender a Deus, mas que em nada fere a doutrina, sua linha de pensamento alia-se apenas na prática da vida cristã, mas nada afeta a doutrina, porém, os ensinamentos que colocam em risco a doutrina da Bíblia devem de imediato ser rejeitados.
Muitos pregadores de Deus de eras passadas eram calvinistas; ainda hoje existem crentes sinceros que seguem essa linha de pensamento, mas que fique bem claro: os tais não são hereges, o que acontece é que nesse ponto suas interpretações hermeneuticamente não são tão convincentes, e na predestinação fatalista existem dois perigos cruciais:
tira o fervor espiritual, não colocando os crentes em verdadeira atividade no cumprimento do Ide de Jesus Cristo, da evangelização do mundo;
faz com que o cristão seja menos cuidadoso com suas responsabilidades espirituais, pois o mesmo acredita que haja o que houver sua salvação já está assegurada.
Pr. Osiel Gomes

Livre arbítrio

Introdução
À luz da Bíblia, entendemos que Jesus Cristo foi enviado por Deus para salvar todo aquele que Nele crer (Mc 16.15). Sendo assim, é necessário que o homem, frente à mensagem do Evangelho, possa responder positivamente a esse chamado, que depende também da vontade humana de querer fazer a vontade de Deus (At 2.38; Jo 7.17).
São abundantes os textos bíblicos que falam da salvação que é concedida a todos os homens, desde que o mesmo creia na mensagem salvadora (Rm 8.32; Tt 2.11). Somente o ser humano tem a capacidade de crer e desejar querer fazer a vontade de Deus, e desenvolver sua salvação com temor e tremor (Fp).
1 O livre-arbítrio no contexto da Bíblia
1.1 Deus e o nosso livre-arbítrio
A mensagem do Evangelho mostra ao pecador o plano perfeito da salvação, desse modo ele pode com sua vontade livre querer fazer ou não a vontade de Deus; no momento em que o pecador se arrepende, Deus lhe concede graça para desenvolver sua salvação com alegria.
Há uma dialética no relacionamento Deus e homem, pois Deus sempre vem ao encontro do homem, mas o homem coopera com o Senhor. Ciente de que é um pecador e que precisa de um salvador através da pregação do evangelho, a qual gera fé para o arrependimento (Rm 10.17), e por meio do seu livre-arbítrio, o homem pode converter-se a Cristo Jesus.
A cooperação de Deus e do homem no processo da salvação é bem explícita nas páginas seletivas da Bíblia. Para poder achegar-se a Deus o ser humano recebe Dele a vontade de crer, a vontade de ir ao seu encontro (Ef 2.8; Gl 5.22). Hoje qualquer ser humano pode achegar-se a Deus, pois Ele se achegou a nós por meio da morte de seu Filho, Jesus Cristo (Jo 12.34).
Pelo livre-arbítrio o ser humano pode fazer sua decisão de crer em Cristo ou não, pois já tem conhecimento das verdades divinas, as quais geram responsabilidades e coloca o homem na condição de ser julgado.
Muitos são conscientes que são pecadores, sabem que precisam tomar o caminho certo para Deus, que é crer no seu Filho para ser salvo, mas não querem fazer isso porque têm de renunciar a muitas coisas (Mt 16.24), o que gera angústia e aflição no seu coração. A salvação do pecador é algo instantâneo, mas os passos que são dados a ela não são automáticos, pois envolvem certas experiências.
A salvação é ofertada por Deus a todos os homens, indistintamente, ele pode aceitar o convite divino ou rejeitá-lo, pois Deus respeita o livre-arbítrio de cada um. Esse ponto pode ser comprovado através do que João escreveu, esclarecendo que a capacidade de escolher pertence ao homem (Ap 22.17).
1.2 O livre-arbítrio como essência puramente humana
O homem foi formado por Deus como um ser pensante, criativo, sendo assim é impossível que ele venha fazer algo sem motivo ou razão. O homem tem a capacidade de escolha, de mudar o modo de pensar, e é responsável pelo que faz, pois ele foi capacitado da livre-agência.
Em se tratando de crer em Cristo, sabemos que, devido à natureza pecaminosa, o homem sempre é tendente ao pecado, para ele é sofredor trilhar o caminho da salvação, da santidade, pois requer uma negação tanto do seu mundo interior como exterior, mas ele pode vencer tudo isso seguindo o exemplo de Cristo Jesus.
A escolha do homem separar-se de Deus foi algo livre (Rm 1.18), assim, vivendo afastado de Deus, sempre o mesmo pende para as coisas carnais. Todavia, isso não quer dizer que ele não tenha conhecimento do bem e do mal, e por meio do seu livre-arbítrio pode escolher um ou outro, porém, como está em pecado, sempre suas escolhas serão para aquilo que contraria a vontade divina.
1.3 O livre-arbítrio na vida dos não regenerados
Aquele que ainda não nasceu de novo pode praticar coisas boas, ademais, ele pode deixar que o bem seja a força mais preponderante no seu ser. Todo homem, seja ele crente ou não, pode fazer o bem quando realmente desejar fazê-lo.
A capacidade de fazer o bem é possível porque a alma humana foi criada segundo a imagem de Deus, essa alma não está tão corrompida que não consegue fazer as coisas certas. Podemos crer também que os atos de bondade praticados pelo ser humano sofre influência do Espírito Santo de Deus.
Por meio da influência do Espírito Santo de Deus o homem caído pode ser iluminado para dirigir-se a Cristo Jesus. Um incrédulo pode aceitar a Jesus como salvador, ainda que tal se encontre na condição de caído, fraco, morto espiritualmente, porém, no momento em que se decide seguir o caminho da fé, Deus vem ao seu encontro dando-lhe as bênçãos de Cristo.
2 A importância do livre-arbítrio na vida do homem
2.1 O livre-arbítrio no aspecto moral e ético
O livre arbítrio na vida do homem é importante pelo fato de lhe conceder a capacidade e responsabilidade de tomar suas decisões, pois é um disparato ter obrigações morais sem capacidade de fazer escolhas. Paulo diz que cada homem será julgado por meio de suas obras (Rm 6.2), sendo assim não seria ilógico julgar alguém que não foi lhe concedido condições de fazer suas escolhas?
Culturalmente, nenhuma sociedade julga alguém sem que primeiro coloque em avaliação sua escolha, considerando seu posicionamento, se poderia agir ou não de outra forma. No aspecto ético, as recompensas e os castigos são feitos levando em consideração a escolha do indivíduo, pois por meio de sua capacidade de escolha, pelo seu livre-arbítrio, ele poderia decidir de modo adequado ou não.
2.2 As exigências morais e o livre-arbítrio
Dizer que o homem não é um ser com livre-arbítrio fere seriamente as Escrituras Sagradas, pois ela exige uma moral da parte do homem, mostrando claramente como é que Deus quer que ele viva. Pelo teor bíblico está claro que o homem depois de ter sido salvo pode vir a cometer falhas (1 Co 9.26; Fp 2.12).
Uma prova clara de que o livre-arbítrio está presente no homem pode ser visto nas exigências bíblicas que são feitas para que ele possa andar segundo o querer divino. O homem tem a capacidade de obedecer ou desobedecer, de aceitar ou rejeitar os propósitos divinos por meio de sua vontade.
Exigir um procedimento moral do homem lhe prometendo recompensa ou punição, bênção ou maldição, sem que o mesmo tenha capacidade de fazer suas escolhas, seria, na verdade, uma incoerência divina.
2.3 Respondendo positivamente ao chamado divino por meio do livre-arbítrio
A Bíblia sagrada, quando apresenta o plano da salvação ao homem, exigindo arrependimento e fé, mostra que é de sua inteira capacidade fazer a escolha certa (1 Tm 2.4; At 17.30). Dizer que o homem não é um ser que pode fazer sua própria decisão coloca em descrédito tais textos bíblicos, pois nega ao mesmo a possibilidade de atender ao querer de Deus.
As leituras dos textos mencionados acima, caso não fossem possíveis de serem praticados pelos homens, colocaria a Bíblia em pleno descrédito, não somente isso, desenvolveria uma severa crítica e zombaria para com Deus, que diz algo em sua Palavra que jamais pode ser vivido pelo ser humano.
Podemos asseverar que o homem pode, sim, responder ao chamado universal da salvação porque de fato Deus sabe que ele tem capacidade para isso, razão pela qual enviou seu Filho para morrer por todos os pecadores (Jo 3.16). Caso o homem queria ele pode ser salvo crendo em Jesus.
Precisamos ainda destacar aqui a importância da pregação para a salvação do homem, é bem verdade que os mensageiros do evangelho não pregam procurando encontrar um eleito, antes, o mesmo é consciente de que o evangelho é destinado a todos, que a pregação oportuniza aos sedentos a gloriosa salvação, por isso Paulo disse que devemos pregar a tempo e fora de tempo (2 Tm 4.2).
3 O livre-arbítrio e a graça de Deus
3.1 Capacitado a buscar a Deus
O apóstolo Paulo disse que por causa do pecado o homem separou-se de Deus (Rm 3.23). Nesse caso, a possibilidade de voltar-se para Deus entorpeceu-se grandemente, porém, conforme está escrito na Bíblia, o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus, o que quer dizer que existe nele algo que lhe bafeja buscar a Deus (Dt 4.29; Is 55.6).
Outro meio usado por Deus para que o homem possa lhe buscar está na “graça salvadora”, que é sacrifício de Jesus na cruz do calvário. Na cruz, por meio de Cristo, Deus se revela aos homens, fazendo o necessário a fim de que o pecador possa arrepender-se e crer de coração para vida eterna (Jo 12.34).
Por causa do pecado o homem ficou morto espiritualmente, de modo que ele não podia por si mesmo buscar ou mostrar qualquer interesse por Deus (Rm 3.10), mas essa impotência é vencida através da imagem de Deus no homem e por meio da mensagem da cruz, a qual desperta no seu coração o desejo de buscar a Deus.
O apóstolo Paulo diz que há um gemido na alma do homem pela busca de sua libertação espiritual (Rm 8.21), e seja qual for o pecado, ainda que viva na mais deplorável situação espiritual, ele é capacitado a buscar ao Senhor por meio da mensagem da cruz de Cristo e pelo trabalhar do Espírito Santo de Deus (Jo 16.7).
O homem pecador é consciente que não deve viver na prática do pecado, na sua mente, no seu coração, há um grande desejo de que sua vida seja transformada, ele ofega por uma comunhão com o divino (Sl 42.2). Todos quantos têm sede de Deus podem vir a Cristo que Ele mata essa sede (Jo 7.38).
3.2 O livre-arbítrio na vida do regenerado
No posicionamento filosófico o livre-arbítrio diz que o homem pode agir totalmente sem causa, por mero capricho, o que não é verdade, pois os homens agem mediante causas biológicas, culturais, espirituais. Cedendo a essas forças o homem pode fazer o que não quer, porém isso não quer dizer que ele  esteja agindo sem causa.
Quando o homem aceita a Jesus Cristo como seu salvador sua vida é mudada completamente e, sendo transformado, uma nova vontade é implantada dentro do seu coração, de modo que ele se sente capacitado a ser um bom servo de Jesus Cristo, pois o Espírito Santo que habita em sua vida lhe concede graça para que seja semelhante a Cristo (Rm 8.29).
3.3 Uma vontade superior
Transformado pelo poder do Evangelho de Cristo, o homem recebe uma nova vontade, a qual lhe capacita a querer fazer a vontade de Deus, pois agora a vontade divina com a humana está amalgamada, de modo que o homem está liberto para seguir aquilo que é perfeito (Mt 5.48). Por meio dessa nova vontade o cristão procura viver em santificação, pois seu alvo é firmar bem sua salvação (2 Ts 2.13).
No encontro de Deus com o homem, que se dá através da cruz de Cristo, a verdadeira liberdade acontece (Jo 8.32), de modo que o homem, por meio do seu livre-arbítrio, pode viver a bênção da plenificação da salvação em sua vida, pois não vive mais debaixo da lei do pecado, mas sim na lei do Espírito Santo de Deus (Rm 8.1,2).
Conclusão
Queridos, a predestinação e o livre-arbítrio, segundo a Palavra de Deus e quando bem entendidos, geram gozo no coração do cristão, pois elas tratam das verdades divinas que visam a redimir o homem caído, levando-o a querer fazer a vontade de Deus. Através da vontade humana Deus trabalha no propósito de realizar seus decretos.
Pr. Osiel Gomes