Da
perspectiva científica e biológica, todos nós seres humanos viemos de um mesmo
tronco, da mesma raiz, e como bem assinalou H. Nesturkh, as raças humanas têm origem
comum e são variantes duma só espécie. Biologicamente, a partir do nível da
evolução física de seus representantes, nenhuma é superior à outra.
Essas
assertivas nascem de fora, não estão atreladas a vieses religiosos, nem a
qualquer movimento de luta negra, mas são ratificações cientificas que
esclarecem a origem do homem. No que tange ao aspecto bíblico quanto à temática
ora em apreço, esse livro harmoniza-se
plenamente com a ciência, dizendo que de um só Deus fez toda a raça humana para
habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente
estabelecidos e os limites da sua habitação (Atos 17.26).
Através
da unidade da origem da raça é que pode se compreender as semelhanças entre os seres
humanos, tanto no aspecto psicológico, biológico, morfológico, religioso, as
raras e pequenas diferenças existentes são apenas no aspecto anatômico, que são
secundárias, e servem apenas como sinais distintivos.
Já
que qualquer livro de biologia começa suas seletivas páginas evidenciando que
todos vieram de uma mesma origem, então porque o racismo é tão presente no
mundo, originando-se de pessoas que se dizem intelectuais, líderes, presidentes?
Na verdade, o que acontece é que se arquitetou um discurso por meio de pessoas
que se dizem sábias e que argumentam que as raças não têm uma origem comum, mas
que são determinadas por vários genes. Passaram a falar de modo errado sobre a
questão taxonômica, sobre ciência ou técnica de classificação.
Com
essa dialética traçada e projetada passou então a difundir-se que os
agrupamentos humanos envolviam caracteres diferentes em diversos aspectos, e
que desta maneira nem todas as pessoas seriam iguais, não teriam a mesma
origem, eram estranhas umas das outras. É a partir desta filosofia partidária, sinistra,
desumana, ardilosa, fúnebre, que discurso sobre raças superiores e inferiores
são feitos.
Mas
novamente interpelamos: por que montar tal discurso? Não é difícil responder,
com a ideia de uma raça inferior, retardada, desprovida de certo nível de inteligência,
de cultura, predestinada a sofrer, fadada à escravidão, à exploração, o palco
facilmente é montado para que a dita raça superior massacre, domine, escravize
os inferiores.
Com
a bandeira do racismo hasteada, não demora para que em países, Igrejas,
famílias, Escolas, dentre outros agrupamentos, comecem a emergir aqueles que
são apologistas do discurso de uma raça melhor, superior, potente. Foi com esse
sentimento de busca por uma raça superior que a figura desumana, brutal de
Adolfo Hitler surge. Quem conhece a história desse homem o tem como um monstro,
mas é bom lembrar que sua monstruosidade foi criada por um discurso forjado por
mentes desumanas.
A
ação desumana, incivil, do policial branco Derek Chauvin contra o negro George
Floyd, numa pose, isto é, com mão no bolso e o joelho pressionado contra o
pescoço de Floyd por vários minutos e outros policiais assistindo tudo
passivamente, não é mero fruto de uma casualidade aleatória, mas firma-se em um
discurso de que a vida negra não faz sentido, não tem valor, pois é um ser que
foi destinado à miséria, desgraça, que não merece viver. A mente do policial
americano está envenenada pelo discurso da raça superior, e esse é o discurso
que emana dos lábios dos líderes e de muitos liderados americanos.
Os
racistas vão cada vez mais se estruturando com seus discursos negativos e
desumanos, dizendo que por meio deles vem o avanço tecnológico, científico, a
civilização, as riquezas materiais, por isso eles podem ser os mandatários, ao passo
que a raça inferior só deve ser útil para desempenhar a mão de obra escrava, não
podem contribuir com nada, pois são seres desvencilhados da cultura, inteligência,
nasceram para serem humilhados, dominados.
Pelo
discurso dos apologistas racistas, a evolução social não exerce poder nos
caracteres sociais, mas são as qualidades inatas, biológicas da raça que fazem
com que haja o progresso ou a queda de um determinado grupo social. Observe que
com tais argumentos fantasiosos e mentirosos os racistas rentam alterar as
coisas, transformando a teoria da história em um doutrinamento físico e psíquico.
Não
há provas históricas e antropológicas que confirmem que a evolução de um povo
ou nação se deu através de uma raça superior, nem tampouco pelo nível cultural
das dimensões dos cérebros, como desejam afirmar os racistas, se isso fosse verdade
não poderia haver progresso na civilização egípcia, onde homens e mulheres tinham
crânios pequenos, o que os colocariam em desvantagem, mas quem conhece a
história sabe do progresso do Egito.
É
ainda falso e maldoso o discurso dos racistas em querer dizer que a evolução de
uma civilização acontece através de uma raça superior, a história nos mostra o
contrário: enquanto que os romanos eram poderosos, bem desenvolvidos, os
germânicos eram vistos como bárbaros, mas não demora muito para que eles avancem
e cheguem a ser uma grande civilização, e fica obvio que tal fato não se deu
por questões raciais, mas sim por questões econômicas e sociais.
Portanto,
a razão do ser do racismo firma-se em discursos apologéticos que dão ênfase a
desigualdade oriunda da biologia das raças, o que por meio de tais ensinos ou
doutrinamento torna-se mais propício a aceitação de que há uma raça superior e
outra inferior. Observe que os racistas mudam tudo com o intento de impor sua
dominação sobre os outros, suas leis mais severas sobre os mais fracos, o que
dá motivo para guerras, ódio, segregação.
O
que nós negros de fato desejamos é que todos nos vejam como seres iguais, semelhantes,
independentemente da cor ou da função que exercemos. O que queremos é que o
discurso da raça superior, de seres melhores que os outros seja desfeito. Que nas
Escolas, ruas, praças, Igrejas, parlamento, todos sejam vistos como seres da
mesma espécie.
Henri
Lefebvre está certíssimo quando, falando da dialética do desenvolvimento humano,
diz: o homem só poderia ter se
desenvolvido através de contradições; portanto, o humano só poderia ter se formado
em oposição ao desumano, inicialmente misturado com ele, para em fim ser
discernido através de um conflito e dominá-lo pela resolução desse conflito. Não se pode mais ver em pleno século vinte um
atos desumanos, visto que já houve uma evolução histórica que levou o homem a deixar
seu estado selvagem, bárbaro e agora vive sua plenificação consciente. Enquanto
não houver destruição do discurso racista maléfico de uma raça melhor, o litigio
irá continuar.
Osiel
Gomes