domingo, 21 de agosto de 2016

Doutrina da predestinação

A DOUTRINA DA PREDESTINAÇÃO
Introdução
Quem entende a natureza divina, que só pode ser mediante a revelação do Espírito de Deus (1 Co 2.10), jamais terá o tema da predestinação como algo estarrecedor, tristonho, mas sim de alegria por saber que Deus é justo e que deseja a salvação de todos os homens (1 Tm 2.4).
Foi um ato de grande amor Deus eleger Jesus para ser nossa propiciação (Rm 3.25; 1 Jo 4.10), e planejar de modo maravilhoso, através de seus atos, meios de conduzir os homens ao seu propósito divino (Rm 8.28.29). Na verdade, a predestinação à luz da Bíblia jamais interfere nas escolhas dos homens, mas previamente ela o leva a inclinar-se a buscar um bom e verdadeiro relacionamento com Deus.
1 Definição de predestinação à luz da Bíblia
A palavra predestinação fala de determinar previamente o destino das pessoas. O termo grego proorizo pode nos ajudar a entender melhor esse assunto, pois significa marcar antecipadamente, com antecedência. Cristo foi previamente determinado a sofrer e morrer por nós na cruz (At 4.28; 1 Co 2.7). Todos quantos foram eleitos por Deus são predestinados a serem filhos por adoção (Ef 1.5; Rm 8.28-29).
2 Predestinação bíblica: um plano perfeito de Deus
2.1 A sabedoria divina presente na predestinação
Na predestinação bíblica está inclusa a sabedoria de Deus, inclusive a busca de sua glória, pois quanto mais vidas se salvarem ao aderirem aos propósitos divinos, mais glória será para Deus, pois prova que os pecadores entenderam seu plano salvador. Servir e adorar um deus que separa uns para vida e outros para morte prova quanto ele não é sábio, nem seus planos perfeitos.
A predestinação não deve ser temida pelos cristãos verdadeiros, pois ela é uma bênção de Deus para nós, posto que não se trata de um fatalismo radical, de um determinismo absoluto, não dando permissão de escolha por parte do homem. A predestinação à luz da Bíblia está firmada nos “Atos de Deus”, isto é, se o homem fizer a escolha certa, a ação divina influenciará em sua atitude.
2.2 A causa dos males no mundo
Para entender tais assuntos dentro do contexto bíblico basta tão somente que cada pessoa atente para o próprio mundo em que vive. Nosso mundo é dirigido pela lei da gravidade: caso alguém que esteja dentro de um carro em alta velocidade resolva  saltar dele, a morte será certa. Assim, nesse caso fica evidente que foi sua decisão escolher a morte, a culpa não é de Deus.
A causa de o mundo viver no sofrimento espiritual e até físico deriva da escolha de Adão, que desobedeceu às ordens divinas, por isso a Terra está em maldição, aguardando sua redenção (Rm 8.22,23). Desastres naturais, dores, enfermidades, cansaço, isso não acontece pela escolha própria do indivíduo, mas por causa do pecado de Adão.
Entendemos algo interessante quando lemos Gênesis 1.30. Está claro que Deus fez tudo bom, perfeito, mas que, por causa do pecado, os males físicos e espirituais entraram no mundo, quem quiser vencê-los precisa apegar-se a Deus, pois somente Dele é que tudo pode voltar à perfeição (Ap 21.5).
2.3 A bênção consoladora da predestinação
Por meio da predestinação de antemão Deus planejou a salvação de toda humanidade, de modo que ninguém pode dizer que não é salvo porque foi excluído do projeto divino. Lucas diz que todos podem ser salvos, desde que busquem a Deus com sinceridade (At 4.27,28). Paulo diz que ninguém pode alegar ou acusar a Deus de injusto, de não lhes dar oportunidade de salvação (At 17.27; Rm 1.20).
A bênção da predestinação está firmada no fato de Deus providenciar recursos que conduzam o homem ao entendimento do seu plano salvador. A predestinação pode ser vista também como uma bênção consoladora porque visa a levar o cristão ao verdadeiro crescimento espiritual: a ser como Cristo Jesus (Rm 8.29; 1 Jo 3.2).
A predestinação foi algo projetado por Deus lá na eternidade, mas só pode ser compreendida por aqueles que realmente procuram servir a Deus em espírito e em verdade, posto que desse modo está pronto para corresponder ao que Deus preparou de antemão, que jamais a mente humana pôde entender. Podemos dizer que a predestinação leva o crente sincero a glorificar a Deus, por entender que todos os seus planos são perfeitos (Jr 15.19; 1 Co 2.9; Ef 1.5,11,12).
3 Atendendo ao chamado divino
3.1 Os atos da graça
Jesus foi ofertado por Deus ao mundo (Jo 3.16.), mas cabe ao homem reconhecer ou não a bondade e a misericórdia divina, pois Deus não força ninguém a receber seu Filho como salvador. Porém, Ele concede o Espírito Santo e sua graça para convencer o pecador, mostrando as bênçãos maravilhosas que podem desfrutar todos quantos aceitarem a Cristo.
Todos são convidados a gozar das bênçãos gloriosas que Jesus, como o presente ofertado dá a todos (Mt 11.28,29). Como o homem está vivendo no pecado, tendo sua mente poluída, está morto espiritualmente, não tendo como reconhecer o grande valor do sacrifício de Jesus e para atender ao chamado divino Deus lhe concede os atos da graça.
Por mais que o homem estude, faça curso de teologia, tenha grandes conhecimentos, nada disso lhe levará ao conhecimento verdadeiro de Deus, pois ninguém pode conhecê-lo apenas por seus esforços, porque o conhecimento de Deus se dá por meio de sua revelação (Mt 16.16). Paulo conheceu a Cristo não por causa de sua tradição judaica ou conhecimento, mas sim por causa da revelação de Jesus (Gl 1.12).
Morto espiritualmente não tem como o homem iniciar sua própria salvação, por isso precisa da ajuda divina, e é isso que Deus, com seu grande amor, concede essa ajuda (Ef 2.1,8,9). Paulo diz que o homem pecou, dessa maneira se encontra separado e morto espiritualmente diante de Deus, incapaz de autossalvar-se (Rm 3.11, 23).
Como o pecado separa o homem de Deus, ele jamais pode aproximar-se Dele, mas Deus pode se aproximar do homem por meio de Jesus Cristo (1 Tm 2.5). O aproximar de Deus ao pecador se dá por meio do sacrifício de Cristo e pela capacidade restaurada que Ele concede ao homem para que ele entenda o plano da salvação e volte-se para o seu Pai (Rm 5.6; Jo 6.44).
3.2 Compreendendo o plano divino da salvação
No desejo de salvar o homem, Deus providenciou todos os meios para que ele chegasse à compreensão do seu plano divino, por isso enviou profetas, pregadores, operou milagres, e, por fim, fez com que o verbo se transformasse em carne para que na sua totalidade o homem chegasse ao completo plano da salvação (Jo 1.14; Gl 4.4).
Não há desculpas, o homem pode responder ao chamado de Deus, o qual é universal e resistível. Pela Bíblia está provado que o desejo de Deus é que todos sejam salvos (1 Tm 2.4; 2 Pe 3.9), por isso ordenou aos seus servos que pregassem o Evangelho a toda criatura (Mt 28.19; Mc 16.15), observe que isso deve ser feito até por meio de persuasão (2 Co 5.11).
É bom entender que na universalidade do convite divino não existe qualquer resquício de seletividade, desigualdade, preconceito, todos, sem exceção, são chamados a desfrutar das bênçãos divinas por Jesus Cristo (Mt 11.28; Jo 3.16; Is 55.1).
Jesus foi ofertado por Deus ao mundo para salvação de todos, mas ninguém é obrigado a aceitá-lo, isso deixa claro que o homem pode resistir à bondade de Deus. Essas questões nos levam ao seguinte entendimento: Deus oferta a dádiva da salvação a todos, mas nem todos serão salvos, não porque Deus não queira, mas porque o homem rejeita.
3.3 Distinguindo o chamado
A redenção operada por Cristo como o chamado de Deus é para todos, mas a eficácia de ambos só é possível na vida daquele que se rende ao projeto divino, que realmente crê em Cristo Jesus como o cordeiro enviado para redimir o pecador. A palavra de Deus releva toda a bênção que está presente em Jesus (Ef 1.3). Os pregadores estão falando do propósito de Deus para todos quantos se renderem ao convite de Cristo, mas muitos rejeitam, conforme Jesus falou (Jo 5.40).
Em diversas passagens bíblicas está claro como o homem tem desprezado o plano da salvação, resistindo ao Espírito Santo, que é quem opera no ato da nossa salvação (Jo 16.6-8). Ao longo de toda história humana o homem tem rejeitado o grande amor de Deus, o qual é revelado em Cristo Jesus (At 7.51; Rm 10.21; Hb 10.29).
É bom fazer distinção entre os chamados, a Bíblia fala do chamado para salvação, arrependimento, fé (Mt 3.2; 2 Pe 3.9; Rm 10.9; 1 Jo 3.23). Deus não nos chama apenas para a salvação, Ele nos chama também para vivermos em santidade (1 Co 1.26), mas existe o chamado divino para ministério específico (Rm 1.1).
4 A predestinação revela a graça de Deus
4.1 A predestinação bíblica não é determinista
Muitos não entenderam, nem entendem, de modo preciso o que de fato é o plano da salvação exposto na Palavra de Deus, por isso têm tratado a salvação como sendo algo predestinado, ou melhor, no seu aspecto determinista, afirmando que uns foram escolhidos por Deus para serem salvos e outros condenados, excluindo assim a participação do homem na escolha do grande salvador.
A salvação é descrita nas páginas da Bíblia como sendo algo que demonstre a graça de Deus, o homem responde a essa graça através da fé, que é resultado da operação divina no seu coração, capacitando-o a render-se a Jesus. Os que seguem o ponto de vista determinista passam a entender o amor de Deus como algo que foi manifesto lá atrás, e a eleição é algo que parte apenas do absolutismo divino, pautado em sua soberania, que não leva em consideração os atos dos homens.
4.2 Os perigos da predestinação determinista
Os deterministas não olham para a predestinação bíblica apenas como um plano maravilhoso de Deus, que foi feito de antemão envolvendo seus próprios atos, buscando o bem espiritual do homem; antes, afirmam que antecipadamente Deus decretou tudo o que vai acontecer com o homem nesta Terra, inclusive quem será salvo e quem não o será.
Esse posicionamento é muito perigoso e sem qualquer atitude amorosa divina, pois nesse caso se o homem atender ao chamado de Deus não será por meio de um esforço sincero, visto que a salvação não é para todos. Todavia, o chamado só terá validade de fato para aqueles que, na verdade, já foram predestinados à salvação.
Muitos veem o chamado divino apenas como um mecanismo que Deus usa para chamar os eleitos, aqueles que serão salvos. Nesse caso somos levados ao seguinte pensamento: já que não fazemos nossa escolha no que tange a aceitar ou rejeitar Cristo, os que são predestinados jamais podem perder sua salvação.
4.3 A predestinação fatalista
A doutrina da predestinação fatalista é sem lógica, porque cria um tipo de deus que não tem sabedoria, que é louco, pois já destina no seu mundo eterno quem vai ser salvo e quem vai perecer sem salvação. Essa predestinação não dá chance sequer para quem deseja a salvação, negando-lhes o presente divino: Jesus. A predestinação fatalista deixa claro que muitos já vieram ao mundo para serem objetos da condenação divina.
Os que seguem essa linha de pensamento firmam-se na teologia de João Calvino, por isso são denominados calvinistas. Porém, através de uma leitura bem cuidadosa dos textos bíblicos é possível entender que tal pensamento não segue uma lógica bíblica, mas que é apenas invenção de homens.
Certa vez alguém perguntou se eu era calvinista ou arminiano, ao que respondi a ele: Sou cristão (At 11.26). A igreja primitiva não seguia essa linha de pensamento, dizendo que uns foram escolhidos para serem salvos, e outros para serem condenados, sem chance de salvação, mas sim pregava o evangelho para salvação de todo pecador.
Quero dizer que existem opiniões que são apenas coisas de homens querendo entender a Deus, mas que em nada fere a doutrina, sua linha de pensamento alia-se apenas na prática da vida cristã, mas nada afeta a doutrina, porém, os ensinamentos que colocam em risco a doutrina da Bíblia devem de imediato ser rejeitados.
Muitos pregadores de Deus de eras passadas eram calvinistas; ainda hoje existem crentes sinceros que seguem essa linha de pensamento, mas que fique bem claro: os tais não são hereges, o que acontece é que nesse ponto suas interpretações hermeneuticamente não são tão convincentes, e na predestinação fatalista existem dois perigos cruciais:
tira o fervor espiritual, não colocando os crentes em verdadeira atividade no cumprimento do Ide de Jesus Cristo, da evangelização do mundo;
faz com que o cristão seja menos cuidadoso com suas responsabilidades espirituais, pois o mesmo acredita que haja o que houver sua salvação já está assegurada.
Pr. Osiel Gomes

Livre arbítrio

Introdução
À luz da Bíblia, entendemos que Jesus Cristo foi enviado por Deus para salvar todo aquele que Nele crer (Mc 16.15). Sendo assim, é necessário que o homem, frente à mensagem do Evangelho, possa responder positivamente a esse chamado, que depende também da vontade humana de querer fazer a vontade de Deus (At 2.38; Jo 7.17).
São abundantes os textos bíblicos que falam da salvação que é concedida a todos os homens, desde que o mesmo creia na mensagem salvadora (Rm 8.32; Tt 2.11). Somente o ser humano tem a capacidade de crer e desejar querer fazer a vontade de Deus, e desenvolver sua salvação com temor e tremor (Fp).
1 O livre-arbítrio no contexto da Bíblia
1.1 Deus e o nosso livre-arbítrio
A mensagem do Evangelho mostra ao pecador o plano perfeito da salvação, desse modo ele pode com sua vontade livre querer fazer ou não a vontade de Deus; no momento em que o pecador se arrepende, Deus lhe concede graça para desenvolver sua salvação com alegria.
Há uma dialética no relacionamento Deus e homem, pois Deus sempre vem ao encontro do homem, mas o homem coopera com o Senhor. Ciente de que é um pecador e que precisa de um salvador através da pregação do evangelho, a qual gera fé para o arrependimento (Rm 10.17), e por meio do seu livre-arbítrio, o homem pode converter-se a Cristo Jesus.
A cooperação de Deus e do homem no processo da salvação é bem explícita nas páginas seletivas da Bíblia. Para poder achegar-se a Deus o ser humano recebe Dele a vontade de crer, a vontade de ir ao seu encontro (Ef 2.8; Gl 5.22). Hoje qualquer ser humano pode achegar-se a Deus, pois Ele se achegou a nós por meio da morte de seu Filho, Jesus Cristo (Jo 12.34).
Pelo livre-arbítrio o ser humano pode fazer sua decisão de crer em Cristo ou não, pois já tem conhecimento das verdades divinas, as quais geram responsabilidades e coloca o homem na condição de ser julgado.
Muitos são conscientes que são pecadores, sabem que precisam tomar o caminho certo para Deus, que é crer no seu Filho para ser salvo, mas não querem fazer isso porque têm de renunciar a muitas coisas (Mt 16.24), o que gera angústia e aflição no seu coração. A salvação do pecador é algo instantâneo, mas os passos que são dados a ela não são automáticos, pois envolvem certas experiências.
A salvação é ofertada por Deus a todos os homens, indistintamente, ele pode aceitar o convite divino ou rejeitá-lo, pois Deus respeita o livre-arbítrio de cada um. Esse ponto pode ser comprovado através do que João escreveu, esclarecendo que a capacidade de escolher pertence ao homem (Ap 22.17).
1.2 O livre-arbítrio como essência puramente humana
O homem foi formado por Deus como um ser pensante, criativo, sendo assim é impossível que ele venha fazer algo sem motivo ou razão. O homem tem a capacidade de escolha, de mudar o modo de pensar, e é responsável pelo que faz, pois ele foi capacitado da livre-agência.
Em se tratando de crer em Cristo, sabemos que, devido à natureza pecaminosa, o homem sempre é tendente ao pecado, para ele é sofredor trilhar o caminho da salvação, da santidade, pois requer uma negação tanto do seu mundo interior como exterior, mas ele pode vencer tudo isso seguindo o exemplo de Cristo Jesus.
A escolha do homem separar-se de Deus foi algo livre (Rm 1.18), assim, vivendo afastado de Deus, sempre o mesmo pende para as coisas carnais. Todavia, isso não quer dizer que ele não tenha conhecimento do bem e do mal, e por meio do seu livre-arbítrio pode escolher um ou outro, porém, como está em pecado, sempre suas escolhas serão para aquilo que contraria a vontade divina.
1.3 O livre-arbítrio na vida dos não regenerados
Aquele que ainda não nasceu de novo pode praticar coisas boas, ademais, ele pode deixar que o bem seja a força mais preponderante no seu ser. Todo homem, seja ele crente ou não, pode fazer o bem quando realmente desejar fazê-lo.
A capacidade de fazer o bem é possível porque a alma humana foi criada segundo a imagem de Deus, essa alma não está tão corrompida que não consegue fazer as coisas certas. Podemos crer também que os atos de bondade praticados pelo ser humano sofre influência do Espírito Santo de Deus.
Por meio da influência do Espírito Santo de Deus o homem caído pode ser iluminado para dirigir-se a Cristo Jesus. Um incrédulo pode aceitar a Jesus como salvador, ainda que tal se encontre na condição de caído, fraco, morto espiritualmente, porém, no momento em que se decide seguir o caminho da fé, Deus vem ao seu encontro dando-lhe as bênçãos de Cristo.
2 A importância do livre-arbítrio na vida do homem
2.1 O livre-arbítrio no aspecto moral e ético
O livre arbítrio na vida do homem é importante pelo fato de lhe conceder a capacidade e responsabilidade de tomar suas decisões, pois é um disparato ter obrigações morais sem capacidade de fazer escolhas. Paulo diz que cada homem será julgado por meio de suas obras (Rm 6.2), sendo assim não seria ilógico julgar alguém que não foi lhe concedido condições de fazer suas escolhas?
Culturalmente, nenhuma sociedade julga alguém sem que primeiro coloque em avaliação sua escolha, considerando seu posicionamento, se poderia agir ou não de outra forma. No aspecto ético, as recompensas e os castigos são feitos levando em consideração a escolha do indivíduo, pois por meio de sua capacidade de escolha, pelo seu livre-arbítrio, ele poderia decidir de modo adequado ou não.
2.2 As exigências morais e o livre-arbítrio
Dizer que o homem não é um ser com livre-arbítrio fere seriamente as Escrituras Sagradas, pois ela exige uma moral da parte do homem, mostrando claramente como é que Deus quer que ele viva. Pelo teor bíblico está claro que o homem depois de ter sido salvo pode vir a cometer falhas (1 Co 9.26; Fp 2.12).
Uma prova clara de que o livre-arbítrio está presente no homem pode ser visto nas exigências bíblicas que são feitas para que ele possa andar segundo o querer divino. O homem tem a capacidade de obedecer ou desobedecer, de aceitar ou rejeitar os propósitos divinos por meio de sua vontade.
Exigir um procedimento moral do homem lhe prometendo recompensa ou punição, bênção ou maldição, sem que o mesmo tenha capacidade de fazer suas escolhas, seria, na verdade, uma incoerência divina.
2.3 Respondendo positivamente ao chamado divino por meio do livre-arbítrio
A Bíblia sagrada, quando apresenta o plano da salvação ao homem, exigindo arrependimento e fé, mostra que é de sua inteira capacidade fazer a escolha certa (1 Tm 2.4; At 17.30). Dizer que o homem não é um ser que pode fazer sua própria decisão coloca em descrédito tais textos bíblicos, pois nega ao mesmo a possibilidade de atender ao querer de Deus.
As leituras dos textos mencionados acima, caso não fossem possíveis de serem praticados pelos homens, colocaria a Bíblia em pleno descrédito, não somente isso, desenvolveria uma severa crítica e zombaria para com Deus, que diz algo em sua Palavra que jamais pode ser vivido pelo ser humano.
Podemos asseverar que o homem pode, sim, responder ao chamado universal da salvação porque de fato Deus sabe que ele tem capacidade para isso, razão pela qual enviou seu Filho para morrer por todos os pecadores (Jo 3.16). Caso o homem queria ele pode ser salvo crendo em Jesus.
Precisamos ainda destacar aqui a importância da pregação para a salvação do homem, é bem verdade que os mensageiros do evangelho não pregam procurando encontrar um eleito, antes, o mesmo é consciente de que o evangelho é destinado a todos, que a pregação oportuniza aos sedentos a gloriosa salvação, por isso Paulo disse que devemos pregar a tempo e fora de tempo (2 Tm 4.2).
3 O livre-arbítrio e a graça de Deus
3.1 Capacitado a buscar a Deus
O apóstolo Paulo disse que por causa do pecado o homem separou-se de Deus (Rm 3.23). Nesse caso, a possibilidade de voltar-se para Deus entorpeceu-se grandemente, porém, conforme está escrito na Bíblia, o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus, o que quer dizer que existe nele algo que lhe bafeja buscar a Deus (Dt 4.29; Is 55.6).
Outro meio usado por Deus para que o homem possa lhe buscar está na “graça salvadora”, que é sacrifício de Jesus na cruz do calvário. Na cruz, por meio de Cristo, Deus se revela aos homens, fazendo o necessário a fim de que o pecador possa arrepender-se e crer de coração para vida eterna (Jo 12.34).
Por causa do pecado o homem ficou morto espiritualmente, de modo que ele não podia por si mesmo buscar ou mostrar qualquer interesse por Deus (Rm 3.10), mas essa impotência é vencida através da imagem de Deus no homem e por meio da mensagem da cruz, a qual desperta no seu coração o desejo de buscar a Deus.
O apóstolo Paulo diz que há um gemido na alma do homem pela busca de sua libertação espiritual (Rm 8.21), e seja qual for o pecado, ainda que viva na mais deplorável situação espiritual, ele é capacitado a buscar ao Senhor por meio da mensagem da cruz de Cristo e pelo trabalhar do Espírito Santo de Deus (Jo 16.7).
O homem pecador é consciente que não deve viver na prática do pecado, na sua mente, no seu coração, há um grande desejo de que sua vida seja transformada, ele ofega por uma comunhão com o divino (Sl 42.2). Todos quantos têm sede de Deus podem vir a Cristo que Ele mata essa sede (Jo 7.38).
3.2 O livre-arbítrio na vida do regenerado
No posicionamento filosófico o livre-arbítrio diz que o homem pode agir totalmente sem causa, por mero capricho, o que não é verdade, pois os homens agem mediante causas biológicas, culturais, espirituais. Cedendo a essas forças o homem pode fazer o que não quer, porém isso não quer dizer que ele  esteja agindo sem causa.
Quando o homem aceita a Jesus Cristo como seu salvador sua vida é mudada completamente e, sendo transformado, uma nova vontade é implantada dentro do seu coração, de modo que ele se sente capacitado a ser um bom servo de Jesus Cristo, pois o Espírito Santo que habita em sua vida lhe concede graça para que seja semelhante a Cristo (Rm 8.29).
3.3 Uma vontade superior
Transformado pelo poder do Evangelho de Cristo, o homem recebe uma nova vontade, a qual lhe capacita a querer fazer a vontade de Deus, pois agora a vontade divina com a humana está amalgamada, de modo que o homem está liberto para seguir aquilo que é perfeito (Mt 5.48). Por meio dessa nova vontade o cristão procura viver em santificação, pois seu alvo é firmar bem sua salvação (2 Ts 2.13).
No encontro de Deus com o homem, que se dá através da cruz de Cristo, a verdadeira liberdade acontece (Jo 8.32), de modo que o homem, por meio do seu livre-arbítrio, pode viver a bênção da plenificação da salvação em sua vida, pois não vive mais debaixo da lei do pecado, mas sim na lei do Espírito Santo de Deus (Rm 8.1,2).
Conclusão
Queridos, a predestinação e o livre-arbítrio, segundo a Palavra de Deus e quando bem entendidos, geram gozo no coração do cristão, pois elas tratam das verdades divinas que visam a redimir o homem caído, levando-o a querer fazer a vontade de Deus. Através da vontade humana Deus trabalha no propósito de realizar seus decretos.
Pr. Osiel Gomes

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Podemos temer à morte?


            A palavra morte traz no seu bojo não somente o sentido da cessação da vida, mas também significa destruição ruína, o fim de alguma coisa. Na vida, existem duas correntes que tratam da morte de modo diversificado, uma encara a morte como dando cabo de tudo, outra, pelo contrário, ver a morte não apenas como o findar da vida física, mas como a separação da alma do corpo, surgindo então uma vida espiritual.       
            Pondo de lado as perspectivas, podemos dizer que a morte de qualquer maneira é temida, mas vale dizer que, no pensar do filósofo grego Epicuro, (341-270 a. C), era bobagem tremenda ter medo da morte, pois isso era tão somente uma questão de lógica. No pensar de Epicuro, o fato de se temer à morte era simplesmente uma questão de espírito, isso poderia ser totalmente mudado caso se pensasse seriamente sobre ela, segundo ele, quando realmente sabemos o que de fato estamos pensando, nossa estada neste mundo será bem mais vivida.
            Epicuro era de Samos, viveu grande parte de sua vida em Atenas, atraiu muitas pessoas devido seus pensamentos, o que o tornava célebre é que tanto escravos, homens e mulheres livres sempre o seguia, o que não era natural nos tempos antigos. Ele fundou uma escola na qual havia um jardim, por isso ficou conhecida como o Jardim. Acredita-se que tenha escrito mais de 300 livros, mas quase nada se restou disso
            No pensar de Epicuro a vida pode ser vida de modo bem aproveitável se realmente tivermos uma filosofia positiva, a qual ajude o homem a encontrar a felicidade. Para muitos, pensar na morte é algo lânguido, todavia, para Epicuro seria algo importante, ela tornava a vida bem viva.
            Um grande marco destacável na vida de Epicuro era sua definição sobre a filosofia, ele não a entendia apenas como um pensar abstrato, mas que deveria ser colocada em prática, ou melhor, na nossa maneira de viver.
No filosofar prático de Epicuro o que torna a vida agradável é a busca pelo prazer e o banimento daquilo que causa dor. O filósofo grego define uma vida de qualidade aquela que é marcada pela gentilidade, simplicidade e busca de amigos; o que torna uma vida angustiante é a luta constante por aquilo que não se pode ter, quanto mais os desejos forem simples, mas facilmente eles serão realizados, de modo que os gozaremos com alegria e prazer.
             A filosofia de Epicuro era um tipo de terapia mental, ele dizia que todos deveriam excluir a dor mental de suas mentes, pois se assim o fizessem poderiam suportar a dor física. Ele afirmava que meditar nos bons momentos da vida era o que poderia fazer com que a felicidade perdurasse até mesmo na hora da morte.
            A circunspeção presente no pensamento do epicurismo não era a grandeza, ganância, mas sim a moderação, o contrário disso faz com que a mente fique sempre em um estado de angústia. No cardápio de Epicuro e de seus alunos não constava comidas exóticas, mas apenas água e pão. Muitos rivais da escola de Epicuro tentaram macular seu pensamento e o procedimento dos seus alunos, afirmando que no Jardim havia pratica de licenciosidade carnal, o que para muitos não passavam de boatos.
Em suma, podemos afirmar que na questão da morte Epicuro dizia que ela não deveria ser temida porque quando acontece nós não estamos lá. Enquanto os acontecimentos são coisas que fazem parte das nossas experiências, a morte é o seu oposto, isto é, ela impossibilita o homem dessa dita experiência, dela o homem não tem ciência, nele não restará coisa alguma para sentir o que sucede ao seu corpo.
            Para não temer à morte, Epicuro dizia que era importante analisar o passado e o presente, ele afirma que antes de existirmos houve uma eternidade na qual nós não existíamos, posteriormente veio uma possibilidade de nossa existência, mas não há preocupação da nossa parte em não ter existido anteriormente.
            Epicuro dizia que não havia simetria em nosso pensamento, pois assim como não pensávamos no tempo antes do nosso nascimento, nos preocupamos apenas com o tempo depois da morte, é nisso que consiste nosso grande erro. Assim ele expressava: como não pensamos no nosso passado eterno, não devemos também pensar na questão da morte no futuro.
            Dentro do contexto Bíblico a morte não é vista como uma tragédia, uma desgraça, mas preciosa aos olhos de Deus (Sl 116.15). No livro do Apocalipse, João diz que a morte é um estado de bem-aventurança para aqueles que morrem no Senhor (Ap 14.13). Portanto, quem não quiser realmente temer a morte precisa ter o dono da vida: Jesus. (Jo 5.24).

            

quarta-feira, 13 de abril de 2016

A razão e a existência de Deus.


 

            Em contato com o livro de Gênesis, que sem rodeio já se inicia dizendo: “No princípio Criou Deus os céus e a terra...” (Gn 1.1), não há qualquer tentativa de se provar a existência de Deus por meio de um ato racional, mas sim através de uma viva fé em Deus. O Escritor aos Hebreus diz que os que se aproximam de Deus têm que crer que Ele existe (Hb 11.6).
            Não há como negar que Deus fez o homem com capacidade reflexiva, pensante, racional, de modo que o tal vive neste mundo buscando encontrar provas para tudo, inclusive para a existência de Deus, só que nesse particular alguns são céticos, mas outros, com boa razão, frente a tudo que existe, deduz que nada do que existe poderia surgir por si próprio a não ser por meio de um grande arquiteto: Deus.
            A história mostra santos homens piedosos de Deus como Anselmo e Tomás de Aquino que buscaram provar a existência de Deus por vias racionais, sendo que um se distancia do outro por quase dois séculos, não fizeram isso de modo aleatório, sem base, mas sim respaldados na Palavra e nas obras divinas, ou seja, a criação.
Tomás de Aquino, um italiano, tentando provar a existência de Deus, fez isso através da apresentação de cinco pontos racionais em parte de sua obra chamada Suma Teológica. Alguns estudiosos são contra o modo que Tomás tentou provar a existência divina, todavia, temos que entender que não há nada de errado em usar a faculdade racional, posto que ela é um dom de Deus ao homem. Através dela o ser humano pode avaliar, julgar, fazer juízo, como também manifestar bom senso.
            Quando Paulo escreve sua carta aos cristãos de Roma, ele mostra que foi a falta de um olhar racional do homem que o fez tomar o caminho da devassidão, depravação, pois não reconhecia nem via Deus em nada, de modo que se tornou alienado de Deus (Rm).
            Vamos então apresentar as cinco vias de Tomás de Aquino, nas quais ele busca provar a existência divina por meio da razão:

a-      Primeiro Motor. Em relação a esse tópico dizia que Deus é um ser movente que não precisa ser movido por outro ser, se esse ser não existisse seriamos seres indefinidos (Jo 5.26).

b-     Causa eficiente. Temos que concordar que existe uma causa primeira, uma causa eficiente e essa causa primeira é Deus. Tudo que existe no mundo não existe por si mesmo e sim por uma causa eficiente (At 17.32).

c-      Ser contingente e ser necessário. Já falamos que o ser necessário é Deus, Ele é a razão da existência de tudo, existe por si mesmo, é absoluto, é a causa da existência dos seres contingentes (Sl 8.5;At 17.28).

d-     Graus de Perfeição. Nesse ponto dizia que existe o mais ou o menos, ou seja, existem graus de perfeição, uma coisa pode ser mais bela, mais feia, mais verdadeira, mais forte, mais fraco; então, sendo assim, podemos dizer que existe um ser que está em uma categoria maior e melhor, em um estado de perfeição absoluta (Mt 5.48). Deus é a máxima da verdade, do amor, da beleza, do poder, da força, Ele é um ser pleno, total, completo (Tg 1.17).

e-      A Finalidade do ser. Para o Teólogo Tomas de Aquino, tudo que existe na natureza que não possui inteligência própria tem uma função a cumprir em relação à natureza, um objetivo, um alvo a atingir, então, existe um ser inteligente que está no comando, na direção de tudo, isso para que eles cumpram o seu objetivo, seu propósito, já sabemos que esse ser é Deus.
Grande foi a contribuição desse filósofo e teólogo para a história da Igreja, seu mérito nesse particular é inquestionável, como dizia Jacques Maritain a respeito do pensamento de Aquino:

Não só transportou para o domínio Cristão a filosofia de Aristóteles na sua integridade, para fazer dela um instrumento de uma síntese teológica admirável, como também ao mesmo tempo superlevou e, por assim dizer, transfigurou essa filosofia. Purificou-a de todo o vestígio de erro, sistematizou-a poderosa e harmoniosamente, aprofundando-lhe o princípio, destacando as conclusões, alargando os horizontes, e se nada cortou, muito acrescentou, enriquecendo-a com o imenso tesouro da tradição latina e cristã.”
Para alguns, Aquino era chamado de doutor angélico ou doutor por excelência. Mas  tem aqueles que não concordam com tal mérito aplicado a ele, como por exemplo o filósofo Bertrand Russel, que questiona os méritos que são aplicados a esse filósofo, veja o que ele diz:
Há pouco do verdadeiro espírito filosófico em Aquino, não está empenhado numa pesquisa cujo resultado não possa ser conhecido de antemão. Antes de começar a filosofar, ele já conhece a verdade, está declarada na fé católica. Se, aparentemente, consegue encontrar argumentos racionais para algumas parte da fé, tanto melhor; se não, basta-lhe voltar de novo à revelação. A descoberta de argumentos para uma conclusão de dada antemão não é filosofia, mas uma alegação especial. Não posso, portanto, admitir que mereça ser colocado no mesmo nível que os melhores filósofos da Grécia ou dos tempos modernos.”
Sabemos que nos períodos da Renascença como também da Idade moderna continuaram a questionar o mérito aplicado a Aquino, todavia, mesmo diante de tais concepções ninguém pode negar que ele foi um grande pensador no período Medieval.
Na linha teológica de Aquino não existe o que pode ser denominado de regresso infinito, todavia, toda causa tem um efeito e, ademais, o regressar de qualquer coisa sempre vai esbarrar no ser eterno: Deus, o criador de todas as coisas.
Para entendermos melhor esse assunto basta pensarmos em uma bonita cadeira feita de matéria e que passou por diversas transformações até que chegasse à sua perfeição, mas no seu regressar não existe uma infinitude sem causa e efeito, na verdade, ficará claro que Deus é o criador da matéria da qual ela é feita.