Entre Rios
Vivemos tempos em que se visibiliza uma sociedade que se diz evoluída,
transformada, em pleno progresso, porém, em sua obviedade o que se lobriga é
uma sociedade dominada pela segregação, divisão de classes, sede de poder,
ganância, que faz uso de ideologias para dominar as massas mal estruturadas, as
quais sempre foram instrumentos de manipulação por parte dos poderosos, sendo
úteis apenas para consecução de seus maléficos objetivos, não querendo que as
mesmas se sobressaiam, que cresçam intelectualmente, contendo-as com políticas fragmentárias,
a exemplo de pão e água.
É sabido que as primeiras civilizações
humanas viviam entre rios, no aspecto simbólico rio fala de vida, grande
quantidade de qualquer coisa, mas a ênfase que desejo dar aqui é ao fato que o
homem teve um habitat agradável para se desenvolver, crescer, fluir, entretanto,
o que era para ser motivo de vida, alegria, prazer, tornou-se fonte de
intricados conflitos, guerras, pois quem habitava próximo ao rio, desfrutando
de uma localização fértil sofriam ataques daqueles que são ávidos, que querem
apossar-se do que é dos outros.
O berço da civilização humana é essa
terra entre rios (Tigres e Eufrates), Mesopotâmia,
palavra grega que é composta, pois méso quer dizer meio, ao passo que potamós é
rio, o que resulta de terra entre os rios. Na concepção de diversos estudiosos,
historiadores, antropólogos, afirma-se que o surgimento do homem se deu na dita
região da Mesopotâmia.
Os povos que primeiramente habitaram
nessa região foram os sumérios (4000 a 1900 a. C), eles ficavam na parte da
região pantanosa, quem sabe a geografia prontamente entende que atualmente hoje
essa região é o Iraque. Podemos falar também dos Sumérios, a importância desse
povo é inegável, visto que deles veio a escrita, suas cidades Estados eram Ur,
Nipur, Uruq. Não podemos também deixar de citar os babilônicos (1900 a 12000 a.
C), também há louvores para com esse povo, pois deles originou-se um conjunto
de leis escritas denominadas Código de Hamurabi, que é assim denominado por
causa do rei Hamurabi, um rei babilônico que por seu grande poder conquistou a Suméria
em 1750 a. C.
Para efeito de lembrança ainda
destacaremos mais dois povos que habitavam nessa região, primeiramente os
assírios (1200 a 612 a. C.), que destacaram-se logo quando começaram a dominar
certas regiões vizinhas da Babilônia, a fama que eles tinham era de poderosos,
fortes e cruéis, mas apesar disso não demorou para que se tornassem dominados
pelos caldeus, que estavam em ascensão. Por fim, destacamos os caldeus (612 a
539 a. C.), podemos dizer que os caldeus foram os últimos povos a habitar a
região da Mesopotâmia, o crescimento e viço deu-se através da grande monarca Nabucodonosor,
que por meio de sua força e poder conseguiu invadir a Babilônia e criou um
segundo Império Babilônico, mas também esse poder será dizimado através da ação
dos persas, comandados pelo rei Ciro.
Quando olhamos para a sociedade da Mesopotâmia
observamos divisão de casta ou estamento. Tinha-se a presença dos sacerdotes,
aristocratas, os militares e ricos comerciantes que dominavam e controlavam
toda a sociedade, isso porque possuíam o poder religioso, militar e econômico
nas mãos, de modo que obrigavam os camponeses, artesãos e escravos a estarem
sujeitos às suas regras impostas, não dando a eles nenhum tipo de direito.
Pelo exposto acima entendemos que essa
região era promissora e fértil, foi o berço da humanidade, era propícia para se
viver, pois as riquezas naturais eram grandiosas, permitindo ao homem a
capacidade de criação de animais, fundações de cidades, desenvolvimento da
agricultura, visto que devido a fertilidade do solo por causa do ciclo das
cheias do rio, que potencializava o material orgânico que permitia riqueza.
Mas o que era para ser fonte de
vida, de riqueza, tornou-se um lugar de constantes guerras, pois cada povo ali
presente queria dominar a região, ter mais poder, riqueza. A partir de 2.500
anos a. C., as guerras, batalhas nessa região tornaram-se comuns.
Através
dos entraves dessas guerras, cada um buscando sua hegemonia, estabelecer seu
poder, ganhar mais riqueza, não se importavam com as vidas humanas, o que
deveria prevalecer era a economia, a riqueza, o poder a glória.
Diante desse panorama histórico o
que desejo salientar é que estamos vendo o mesmo cenário, o que muda são os
personagens. Na atual conjuntura social
o homem nunca deixou de ser e estar dominado pelos mesmos desejos que os primeiros
povos primitivos tinham. O projeto de se armarem era com fins propriamente egoísticos,
não para preservar vidas, mas sim para tornar exércitos poderosos e dominar os
mais fracos. Buscavam o conhecimento o desenvolvimento para poderem oprimir a
classe mais pobre. Os povos que queriam grandeza, expansão, não mediam esforços
para matar, destruir, sem atentar para qualquer valor humano.
O que poderia ser belo entre os
rios, tornou-se um cenário modelo para imprimir ao mundo o que fazer para tomar
o espaço melhor do outro, como desenvolver nas artes para dominar outras
classes, outros povos. Assim, entendemos que a sociedade atual, ainda que
revele um ato grau de evolução tecnológica, política, religiosa, cientifica,
está dominada ainda pelo mesmo sentimento das primitivas civilizações.
Pergunto: por que os homens brigam? Porque as nações brigam? Por que líderes
brigam? A resposta a essa questão é uma só: sede pelo poder, sede para dominar,
sede para escravizar.
Há que se dizer que as guerras não são produzidas por pequenas
classes, elas não se originam de tintas de obras filosóficas; o preconceito,
racismo, ato de humilhação, a falta de idiossincrasia, é fruto apenas da
ganância e do poder do homem em querer ser grande e poderoso. Olha para os
homens mais cruéis da história, como por exemplo, Hitler, porque eles matavam?
O que psicólogos, sociólogos,
psicanalistas têm procurado entender quanto à natureza humana é o porquê dos
seres semelhantes serem tão diferentes, ainda não se tem a resposta, é claro,
Karl Max negou e era furioso quando se falava em pecado original, porém, não há
outra resposta. O apóstolo Tiago deixa clara a razão pela qual os homens brigam
e escravizam os outros. De onde procedem guerras e contendas que há entre vós?
De onde, senão dos prazeres que militam na vossa carne? (Tiago 4.1).
Osiel Gomes.