segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

O melhor Natal.


Nessa data as pessoas se apressam para fazer o melhor natal possível, juntam a família, compram presentes, montam o pinheiro, fazem jantares caríssimos. Mas essa realidade de um bom natal só é para alguns, pois para outros a data do natal é marcada de tristeza e escuridão.
 Data como a do Natal é manchada por suicídios, isso devido à solidão que muitas pessoas sofrem, o abandono, o descaso. É impossível construir um natal perfeito em meio a uma sociedade utilitarista, materialista, egoísta, sem um coração realmente transformado pela mensagem de Cristo. 
À luz do contexto bíblico, o melhor natal só começa quando a mensagem do Evangelho é recebida, pois mediante ela o homem passa a ter uma nova vida. O melhor natal começa com a exclusão da desigualdade.
 O texto diz que quem primeiro ouviu a voz dos anjos foram os pastores.O teólogo Lawrence O. Richards, no seu Guia do Leitor (2005.653), tem uma boa explicação sobre os pastores: “... os pastores, no século I, pertenciam a uma classe social bastante baixa. Nada mais apropriado do que anunciar as Boas-Novas primeiramente aos comuns do povo e não aos ricos e famosos”.
 O cenário descrito sobre o nascimento de Jesus era de extrema pobreza, não havia nada de luxo, sendo o Salvador rico e cheio de glória, para deixar ao mundo a mensagem de que a vida e a alegria são para todos, independentemente da condição financeira.
Os pastores pobres estavam no campo guardando seus rebanhos, mas foi primeiramente a eles que o melhor natal aconteceu. Através do nascimento de Jesus muitas vidas foram abençoadas, Ele valorizou escravos, homens, mulheres, crianças, sem preconceito, racismo. Excluir a desigualdade social e partilhar junto o amor, a verdade, esse sim é o melhor natal.
Outra coisa que pode caracterizar um verdadeiro natal, para que ele seja o melhor, é que a glória de Deus esteja presente. O texto diz que a glória do Senhor os cercou de resplendor. Nas páginas do Velho Testamento, quando Deus se manifestava, sempre sua glória estava presente (Êx 16.10).
O natal dos pastores foi o melhor do mundo porque através de Cristo foram honrados com a melhor mensagem: “Nasceu o Salvador do mundo.” Os corações desses não favorecidos, esquecidos pela sociedade, considerados lástimas, são os primeiros a serem cercados com o brilho do Salvador, recebendo a mensagem que tiraria os temores dos seus corações. 
O melhor natal se reveste de uma mensagem que faça o rosto de outras pessoas brilharem, que lhe estimule a prosseguir, a vencer na vida. Às vezes nossas mensagens são negativas, sem conteúdo, sem esperança, o que torna a vida de outros tediante, frustrante. A mensagem que os anjos levaram aos pastores era marcada de alegria, não somente para os pastores, mas para todo povo.
O melhor natal é aquele onde Jesus é o centro de tudo, no texto de Lucas 2.8-10 todo o roteiro gira em torno Dele, pois Ele é o protagonista principal, o salvador. É bom entender que Jesus como salvador não está no nível de qualquer político, sua excelência é vista na palavra Cristo e Senhor.
Cristo Jesus é o Messias enviado por Deus para a salvação de toda humanidade. Como Senhor Ele não está no mesmo patamar dos césares, reis, imperadores, mas sim como Aquele que viria para redimir, libertar e salvar a todos que estavam sofrendo no pecado.
O natal de hoje é comercial, seu grande representante é o dito “Pai Noel”, figura que em momento algum entra no contexto bíblico. Em torno desse personagem são feitas caricaturas; lojas, shopping, casas, tudo é enfeitado com essa figura, que nunca realizou qualquer ato salvador, redentor. 
A figura central do melhor natal é Cristo, através do seu nascimento humilde Ele nos ensina o bem da simplicidade, o valor que devemos dar aos outros, a importância de partilhar com os pobres. Os anjos disseram que os pastores iram encontrar uma criança envolto em panos e deitado numa manjedoura. Este é o sinal do verdadeiro significado do natal: Jesus. 
Nossas crianças estão comemorando um natal onde o Cristo divino não é a figura principal, nem estão aprendendo a lição máxima dessa data especial: humildade. A glória, o brilho de muitos natais está nos presentes caros, nas noites luxuosas, requintadas, nas amizades selecionadas. Mas o melhor natal só pode acontecer por meio da ação de Deus, através Dele o homem pode desfrutar da verdadeira paz.
 Muitos têm citado o versículo 14 de Lucas de modo errado, dizendo: “Glória a Deus nas alturas, paz na terra aos homens de boa vontade”. A citação está errada, pois na sua originalidade o texto diz assim: “Glória a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens”. Como falamos no início, para muitos a data do natal será de tristeza, dor, solidão, guerra. Estamos vivendo em um mundo onde a paz está distante de nós, onde as diferenças raciais aumentam a cada dia, onde atos desumanos crescem cada vez mais, portanto, posso dizer que o melhor natal ainda é algo utópico.
Só teremos o melhor natal quando nos rendermos à mensagem do Evangelho, pois somente ele tem a paz que precisamos ter em nossos corações para levar as melhores notícias às pessoas. A “Boa Vontade”, que falaram os anjos, trata-se do querer de Deus em salvar todos os homens (1 Tm 2.4).

Pr. Osiel Gomes.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

A singularidade da Bíblia.


No segundo Domingo de Dezembro o Brasil comemora o Dia da Bíblia. Os cristãos celebram esse Dia com alegria e agradecimento a Deus por conceder sua Palavra, a qual é rara e insuperável. Sua mensagem é confortante, edificante, penetrante e salvadora (Hb 4.12).
Cada livro tem o seu tempo de vida, seu ápice de venda, sua influência, mas depois perde sua utilidade, sendo colocado em uma prateleira de Museu. Ao contrário da Bíblia, sua singularidade é incomparável, sua venda é insuperável, e sua mensagem renovante para cada geração, isso acontece porque a Palavra de Deus é eterna (Sl 119. 89).
A História tem revelado a aversão que muitos reis, imperadores, críticos, ateus, filósofos, têm manifestado para com a Bíblia. Diversos movimentos pelo mundo afora foram levantados e organizados na intenção de destruir esse maravilhoso Livro, porém, como prova de que ele vem de Deus, sua permanência é uma realidade até hoje, vencendo milênios.
Paulo disse que as Escrituras São inspiradas e que são úteis para tudo (2 Tm 3.16). Os que têm se rendido ás verdades divinas sabem do seu grande efeito, de sua eficácia. As mensagens da Bíblia são as mais edificantes, quem lê os salmos 23, 46, 91, o Sermão da Montanha, tem encontrado consolo, alívio e salvação para sua alma.
Ninguém pode negar o poder que a Palavra de Deus tem, inclusive de transformar o homem pecador em uma nova criatura (1 Tm 1.15). A mudança que esse livro tem feito na vida de algumas pessoas provocou reações diversas, até mesmo a criação de Leis e Decretos proibindo sua leitura, ameaçando de morte quem fosse encontrado com um exemplar nas mãos, e não somente isso, mas todos os esforços foram envidados no propósito de erradicá-la de uma vez por toda da face terra.
 No passado, Diocléiso, imperador romano (303 a. D) manifestou sua fúria contra o livro Sagrado, a Bíblia, tendo conhecimento de que os cristãos amavam esse livro, criou decretos ordenando a queima de todos esses livros; sua campanha contra as Escrituras foi pesada, inclusive muitos crentes foram mortos.
 Devido essa severa perseguição muitos cristãos procuraram refugiar-se em cavernas, excluir-se da vida público, de modo que o imperador pensou que havia extinguido esse movimento e o amor pela Bíblia. Ele mandou cunhar em uma medalha a seguinte frase: “O culto aos deuses foi restaurado e o cristianismo destruído.”. Não demorou muito para que Constantino transformasse o cristianismo em uma religião oficial do Estado. 
 Mas não para por aí, os papas colocaram a tradição religiosa acima da Bíblia, os credos passaram a ter mais valor, e muitas pessoas começaram a se apegar a revelações sem sentido. Esses posicionamentos dos papas fizeram com que a Bíblia se tornasse um livro inacessível e de muito mistério para as pessoas simples, de modo que sua leitura passou a ser desprezada. 
Com a chegada da reforma, que colocou a Bíblia nas mãos do povo, os papas começaram a dizer que as pessoas eram incapazes de entender e interpretar a Bíblia, por isso elas precisavam de sua autorização para lê-la, mas jamais interpretá-la. O amor e a confiança nas Escrituras fez com que muitos pagassem com a própria vida. 
Em 1543 um decreto real baseado em atitudes romanistas proibiu o uso da versão de Tyndale e de qualquer outra Escritura sem que o rei permitisse. Eles proibiram a impressão de Bíblias, e quando Tyndale fez o seu Novo Testamento, enviando-os para Inglaterra, esses opositores procuraram adquirir o maior número possível, depois  queimaram-nos. De 18.000 exemplares escaparam somente dois. 
O ódio para com a Palavra de Deus não é algo novo, pois o profeta Jeremias fala de uma ação revoltosa de Joaquim, quando ouviu a leitura de três a quatro páginas do livro feito por Jeudi, que constava a Palavra de Deus, cortou as páginas com um canivete e lançou tudo no fogo (Jr 36.22.23).
O filósofo francês Voltaire afirmou que 100 anos a partir de sua época os cristãos não iriam existir mais, mas foi o contrário, vinte e cinco anos depois de sua morte as mesmas máquinas de imprensa que faziam seus livros foram utilizadas para produzirem Bíblias. 
A existência e sobrevivência da Bíblia é um milagre, e sua singularidade está em sua mensagem, nenhum livro pode ser comparo a ela: Alcorão, Zenda Avesta, Clássicos de Confúcio. Essas obras inspiraram no aspecto apenas do prazer, da moral e outras particularidades, mas jamais estariam no mesmo nível da Bíblia, pois sua mensagem é para fazer nascer um novo homem em Cristo Jesus (1 Pe 1.23).
Além da mensagem de salvação a Bíblia é um livro que gera comportamento saudável para a sociedade: leis, obra de artes, arquitetura, projetos sociais, cultura, pois inúmeros hinos surgiram inspirados em suas páginas seletivas. Ademais, o aspecto divino é o que a caracteriza fortemente, pois suas profecias se cumprem a cada dia, e o seu selo é: “Assim diz o Senhor.”
Festejemos então a singularidade da Bíblia, tendo ciência de que ela é a Santa e Gloriosa Palavra de Deus, a qual pode nos conduzir às verdades eternas, pois assim disse o salmista: Lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz para o meu caminho (Sl 119.105).
Pr. Osiel Gomes.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

O Porquê da maldade humana.



 Quem folheia as páginas desse jornal pode ficar estarrecido diante das tamanhas atrocidades praticado por um homem contra outro homem. Estudiosos, especialistas, psicanalistas, psicólogos, sociólogos, filósofos, todos têm procurado uma resposta para essa ação tão brutal.
 Diante desse contexto perguntamos: Protágoras estava certo, quando afirmou que o homem é a medida de todas as coisas? Ou poderíamos concordar com Jean-Jacques Rousseau, que dizia: “O Homem nasce bom, mas a civilização o corrompe”. Quem está com a voz da razão? 
 As anomalias e distúrbios presentes no mundo moderno podem ser entendidos por alguns “especialistas” como sendo culpa do determinismo genético, biológico; do determinismo circunstancial, da explosão demográfica, da desigualdade social, de modo que a causa de todos os males presentes no mundo são transferidas para a falta de educação, de segurança, de boas políticas públicas, etc., mas nunca se fala da própria ação maléfica do homem, do seu coração perverso.
 Rousseau dizia que a intenção de Deus era conceder o melhor para o homem, por isso Ele fez um belo jardim (Éden) e lhe entregou, mas por causa da intelectualização humana o paraíso foi esquecido, e a desumanização se proliferou no mundo, de modo que o homem esqueceu o lado natural da vida, então acontece o primeiro homicídio na terra.
 Para Rousseau as cidades modernas estão povoadas por Cains, homens maléficos, ao passo que os Abéis não existem mais, pois o lúcifer do intelecto corrompeu toda a humanidade. Ele dizia que o homem precisa fugir da civilização e buscar refúgio novamente na natureza. Para esse filósofo, o homem não deveria voltar a viver em
cavernas, na verdade, voltar à natureza, segundo ele, era necessário apenas que esse tal retorna-se à sua pureza humana.
 Tanto Protágoras como Rousseau tem certa dose de verdade, mas ambos se esqueceram que não é somente o meio que corrompe o homem, mas sim seu próprio coração. À luz da filosofia de Jesus, não é o meio que corrompe o homem, mas sim sua própria natureza carnal decaída, Ele disse que é do coração, palavra que no grego quer dizer cardia, que é o centro da vida, que procedem os homicídios. 
 A maldade humana pode resultar de alguns problemas antropológicos, sociólogos, mas esses não são apenas os fatores que a determina, pois os noticiários do mundo todo estão mostrando violências, crimes praticados por pessoas de diversas classes sociais, de elevada cultura, o que não envolve cor nem status.
 O verbo hebraico rei´eit, que quer dizer maldade declara que a violência tem sua gênese no próprio coração do homem, sua habitualidade na prática de atos cruéis e desumanos, resultam da exclusão da bondade etérea no seu coração, dos valores éticos. 
Obviamente, a maldade está presente já em muitas crianças que estão no ensino fundamental, não são poucas as informações de Escolas com grande índice de adolescentes praticando males, desafiando professores, amedrontando os pais, sem temer a nada e a ninguém. Onde está à pureza de espírito, a doçura da criança, o que as levam a agir dessa forma?
Não bastasse a isso, estamos assistindo passivamente, nas arenas dos bairros, das praças, nas ruas, pessoas serem mortas, assaltadas, roubadas, sem qualquer brio, sem a valorização da vida. Como falei anteriormente, Rousseau tem certa dose de verdades em suas palavras, quando diz que o meio pode corromper o homem, pois, segundo alguns psicólogos, a personalidade humana pode ser afetada de três modos: hereditariedade, ambiente, verdade.
Os filhos herdam dos pais suas características físicas: cor dos cabelos, dos olhos. Em se tratando do ambiente, ele pode referir-se ao lar, vizinhos, bairro onde mora. Esse ambiente pode ser um lugar para crescimento como também para limitações. Por fim, existe a vontade, ela fala da oportunidade que os filhos têm para fazer suas escolhas, ele pode aproveitar sua liberdade para buscar crescimento, progresso, ou então a morte.
Mas, voltando à filosofia de Rousseau, que dizia que o meio corrompe o homem, se analisarmos o Éden onde vivia Abel e Caim, não havia qualquer coisa do meio que pudesse corromper, ou seja, que levasse Caim a ser o primeiro homicida do mundo, a não ser a própria inveja que estava no seu coração. 
Portanto, agora podemos responder a pergunta: Qual a causa de tanta violência? Asseveramos que não é somente pelo fator da explosão demográfica, do avanço da modernidade, da desigualdade social, da falta de cultura, ou de boas políticas públicas, porém, a causa de tantos males resulta da queda do homem, do seu desprezo aos princípios éticos e morais, da maldade presente no seu coração, que o leva a ser maléfico, desumano, um monstro.
Quantos não estão vestidos de lindos ternos, com bons discursos, que impressionam quando falam, mas que não medem esforços para destruir a vida do próximo, sem valorizar o bem maior dado por Deus: a beleza da vida. A maldade humana não leva em consideração o bem do outro, por isso a corrupção está generalizada, presente em cenários que não deveria jamais se quer se mencionada. 
A maldade humana nasce de dentro do coração do homem, do querer ser, do desejo de possuir, de sobrepujar sobre os demais, de não querer estar em baixo, mas superior a todos. Hoje viemos em uma sociedade narcisista, onde o discurso se pauta na beleza, no status, no ter e no ser, o que faz com que alguns jovens, políticos, líderes religioso, busquem os meios mais fáceis para alcançar o que querem.
Finalizo fazendo uso das palavras do filósofo Tiago, ele dizia que as guerras e as pelejas vêm do próprio homem, as quais são impelidas pelo desejo humano. Jesus falou que aqueles que têm os olhos bons, todo o seu corpo será bom. A natureza pura, a qual desejava Rousseau, só pode acontecer através de uma verdadeira mudança do coração do homem, a qual não está em si, mas tem que vir de fora, ou de cima, quer dizer, de um ser superior.
Osiel Gomes.

Tirando Deus de Cena.


O panorama que se descortina diante de nós, marcado por violência, moléstias, descaso para com o valor da vida, tem levado muitos a afirmarem que Deus não está nem aí para os homens, nesse caso pode-se dizer que a filosofia deísta tem fundamento. Mas frente a tudo isso indagamos: Deus está interessado na vida e problemas dos homens?
Antes de respondermos a essa pergunta quero fundamentar minhas respostas nas palavras do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1990), um homem de saber notável que foi professor na Universidade de Basiléia. Não me prenderei no seu posicionamento sobre a fé, mas quero dizer que não podemos ojerizá-lo somente por causa de sua célebre afirmação: “Deus está morto”. 
Em sua obra “A gaia ciência” (1822), o filósofo coloca um personagem segurando um lampião que está à procura de Deus, é dele que nasce a frase que chocou o mundo, especialmente os cristãos: “Deus está morto”.  
É importante dizer que as obras escritas por Nietzsche só tiveram aceitação em tempos posteriores, nos seus dias, muitos o consideravam um louco, suas opiniões eram rejeitadas, por isso teve que deixar a Universidade onde trabalhava, e não somente isso, ele tinha problema de saúde, incluindo o lado mental.
 Nietzsche era um homem que se afastava do seu centro, opôs-se ao pensamento de Kant, e nos seus escritos os comentários são fragmentários, irônicos, provocadores, mas não podemos negar que suas palavras chamam nossa atenção. Mas será se ele realmente, em se tratando do Deus eterno, queria afirmar que Ele estava de fato morto?
Para alguns estudiosos o filósofo alemão estava apenas brincando, pois ele sabia que Deus não poderia morrer, mas tão somente que a crença nesse Deus havia deixado de
ser razoável. Nietzsche dizia que caso Deus estivesse morto então o mundo ficaria sem uma base moral, e que a ideia de bem, mal, certo, errado, só tem sentido onde existe Deus, sua ausência desnivela tudo isso.
Tirar Deus do cenário era o mesmo que complicar as regras do jogo, pois somente Deus tem as normas, as diretrizes certas para valorizarmos o que é devido, e não saberemos como de fato viver. 
Para muitos contemporâneos de Nietzsche essas palavras não tinha qualquer sentido. Esse filósofo se considerava um “imoralista”, isto não quer dizer que ele seria alguém que praticasse o mal de modo deliberado, mas com tal expressão dizia que todos deveriam ir além da moral, é isso que trata sua obra: “para além do bem e do mal”.
No ato de se tirar Deus do cenário, Nietzsche viu que duas coisas aconteceriam no mundo dos homens: tragédias ou alguma coisa excitante, isto é, que estimulasse para algo a mais. A ausência de Deus do mundo humano possibilitava a vantagem de cada pessoa criar seus valores, sua visão de vida, de mundo, pois a religião em nome de Deus tinha posto uma ação moral rígida e marcada de certos limites. 
A filosofia de Nietzsche sobre Deus fora do cenário humano foi de grande valor para muitos, especialmente para aqueles que não querem viver segundo um padrão moral, ou expressar um tipo de fé verdadeira.
Ter na mente a ideia de que Deus não existe ou que Ele está fora do nosso mundo contribuiu para que cada pessoa criasse seu próprio estilo de vida, tivesse uma noção subjetiva do certo e do errado sem a intromissão da das interpretações cristãs. 
Atualmente estamos vivendo em um mundo onde o sentimento cristão está sendo escamoteado a cada instante, cada pessoa cria sua ideia própria sobre verdade, bondade, amor, vida, valor, sem querer escutar as virtudes cristãs estereotipadas nas paginas da Bíblia. 
Nietzsche afirmava que nosso conceito de bondade e compaixão, especialmente o cuidado para com os indefesos, tinha sua origem naquilo que ele denominava de “Genealogia”. Esse filósofo dizia que os poderosos aristocratas gregos construíram suas vidas alicerçadas nas ideias de honra, vergonha e heroísmo na batalha, e não apenas nas ideias de bondade, generosidade, ou um sentimento de culpa por agir errado.
Nietzsche dizia que os escravos valorizavam o que ele chamava de moral escrava, que olhava para os atos dos poderosos como maus e os sentimentos dos companheiros como bons. Os escravos eram pessoas que tinham pouco poder, eles invejavam os poderosos, enquanto que os poderosos celebravam o poder, a força, os escravos transformavam a bondade e a generosidade como virtude.
A ideia da morte de Deus e a hermenêutica da moral escrava de Nietzsche contribuíram lamentavelmente para que muitas pessoas vivessem suas vidas em um nível moral muito baixo, em um puro relativismo, ademais, o sentimento de amor, compaixão,
carinho, humildade, começou a ser interpretado como fraqueza, dando vazão ao espírito soberbo do homem.
O pensamento de Nietzsche formou homens de mentes e ações cruéis, dentre eles destacaremos apenas um: Hitler. Mas nos corredores das Universidades, Escolas, e outros setores, multidões de pessoas estão desprezando os valores familiares, os poderes eclesiásticos, as instituições brasileiras, isso inclui até os símbolos nacionais e cristãos. 
O niilismo de Nietzsche procurou mostrar que o homem é um ser independente, que não precisa de nenhuma verdade moral ou qualquer tipo de hierarquia pré-estabelecida, desse pensamento então surgiu os céticos, os que não valorizam os podes, os que não respeitam as leias, que acreditam que somente os fortes são capazes de vencer na vida.
Tirando Deus da mente e do coração o homem acha que é um deus, mas um deus que não consegue resolver seus problemas, que morre nas suas angústias. O homem de hoje está construindo sua própria torre de babel, sua loucura mental destrói seu lugar de habitação, e o desejo de manter o poder, a glória, a fama, o leva a ser um déposta, um tirano, um “Far West”, onde cria suas próprias leis. 
Um dos poetas de Israel deixou bem claro: “Feliz é a nação, cujo Deus é o Senhor”.

Lidando com a Liberdade


O grande legislador Moisés definiu a vida como grande valor, por isso, dentro dos decálogos está bem claro: “Não matarás”. Essa assertiva é universal, contrariá-la é trazer punição para a própria vida. Depois da primeira e segunda Guerra Mundial, diante de tanta carnificina, desrespeito pela vida, diversos estudiosos passaram a questionar sobre o valor da vida e se se de fato valia apenas viver.
A história do presente momento não é diferente, pois quando vemos atos desumanos sendo praticados em nome do poder, das vantagens políticas, religiosas, perguntamos: qual a razão para estarmos neste mundo? A vida tem mesmo um propósito?
Dizem que todo homem é fruto do seu próprio tempo, que não pode viver às margens da realidade que o cerca. Não foi diferente para o filósofo, dramaturgo e biógrafo Jean Paul Sartre (1905-1980), que produziu parte de suas obras em cafés e morou quase sempre em hotéis. 
Um estilo de vida diferente marcava a vida desse homem, ele viveu na companhia de uma mulher bonita e inteligente, tinha caso com ela, mas nunca mourou junto, ela poderia ter outras relações. Simone de Beauvoir era uma amiga íntima de Sartre, essa amizade foi descrita por eles como essencial, as outras eram denominadas por eles de contingentes, ou melhor, eventual.  
Quando a Segunda Guerra terminou Paris foi dominada pelas forças nazistas, isso fez com que a vida francesa ficasse difícil, pois alguns franceses se opuseram à força alemã, mas outros se tornaram traidores, entregando seus amigos para o exército inimigo. Tudo muda quando a Alemanha é derrotada.
Olhando para trás, os homens viram o que a guerra foi capaz de fazer, os males que ela provocou no mundo, então se começou a pensar em que tipo de vida e sociedade o mundo deveria ser construído, e a pergunta que todos faziam era: “Qual o propósito da vida?” Onde está Deus? Eu devo fazer o que os outros esperam que eu faça?
É em meio a esse cenário que aparece Sartre, ele já havia escrito a obra O ser e o nada (1943), que tinha como tema geral a liberdade. Esse livro foi escrito durante a Segunda Guerra Mundial, sua mensagem era dirigida aos franceses, os quais estavam debaixo do poder das forças alemãs, presas em seu próprio país.
O pensamento de Sartre era que o homem não foi criado para fazer nada em particular, e que Deus não o criou, sendo assim, não havia qualquer propósito de um ser divino tê-lo colocado no mundo. Sartre dizia que o ser humano não tinha uma essência, para exemplificar melhor, dizia que um canivete era feito para cortar, essa era sua essência, ao contrário, o homem não tinha nada disso.
Como não havia qualquer modo especial para o ser da existência humana, então o homem poderia escolher o que fazer, e o que queria ser, pois é livre, ninguém decide o que queremos ser e fazer da nossa vida. 
Sartre dizia que quando nós deixamos que uma pessoa escolha ou decida por nós, ainda assim estamos escolhendo, pois nesse caso queremos ser o tipo de pessoa que outros esperam que sejamos. Em se tratando da liberdade em Sartre, ele queria tão somente dizer que você é o principal responsável por ela. Só você pode querer fazer, tentar, e saber reagir diante do fracasso.
Sartre diz que muitas pessoas não sabem lidar com a liberdade, mas procuram fugir dela fingindo ser uma pessoa livre. Esse filósofo dizia que somos responsáveis pelo que somos e fazemos. Se decido estar triste é porque estou escolhendo ser triste, eu sou o responsável dessa tristeza. Viver dessa forma é muito pesado, por isso muitos preferem não encarar a realidade.
Sartre diz que o homem é destinado a ser livre, mas muitos escolhem ser marionete, dançando uma vida nos molde de uma coreografia, não exercendo ser verdadeiro papel de ser humano, mas vive segundo o padrão que outros estabeleceram. Quando o ser humano procede dessa forma Sartre diz que ele está agindo de má fé, fugindo de sua liberdade.
Viver o que os outros determinam é usar uma mascarará, fingir um tipo de liberdade falsa, é viver acreditando na mentira como se ela fosse verdade, além disso, a pessoa não está usando de sua liberdade: ser o que realmente deveria ser. 
Para Sartre a vida humana é marcada pela angústia, em uma de suas palestras sobre “O existencialismo é um humanismo”, deixa claro que o grande problema do homem é que ele não pode dar desculpas, pois ele é responsável por tudo àquilo que faz. Essa angústia se tornar ainda mais maçante quando aquilo que ele faz deve seguir de modelo, padrão para que outros façam com sua própria vida. Por exemplo: se me caso, estou sugerindo que outros façam o esmo, se sou um preguiçoso, outros deveriam ser também.
Agir dessa forma requeira muita responsabilidade, pois as minhas escolhas iriam refletir na vida de outras pessoas. Segundo Sartre toda nossa responsabilidade está atrelada à existência humana, o “Existencialismo” é o peso do pensar filosófico de Sartre, por meio dessa palavra dizia que primeiramente nós nos encontramos no mundo como seres existentes, depois é que podemos decidir o que fazer da nossa vida. Para Sartre nossa existência precede a essência.
Posso dizer que o pensamento sobre a liberdade exposto por Sartre tem seu aspecto verossímil, mas que foi interpretado de modo errado por alguns, pois em nome de uma liberdade subjetiva as pessoas se tornaram exclusivistas, egoístas, donas do seu próprio mundo. O filósofo Paulo falou que uma liberdade exagerada pode levar a libertinagem, fazendo com que muitas pessoas se tornem crápulas, desregrada.
Muitos não evidenciam um verdadeiro amor na prática porque são guiados por uma filosofia existencialista, contrariando o princípio ético e divino, o qual foi falado por Jesus, por que não querem desenvolver uma vida responsável. Hoje vemos muitas pessoas religiosas, como o sacerdote e o levita, mas que passam distantes de quem precisa de ajuda, pois sua liberdade lhe permite fazer o que quiser inclusive, não ajudar quem precisa. 
A liberdade proposta por Jesus não está alicerçada na definição proveniente do próprio sujeito, mas sim em sua Pessoa, por isso Ele disse: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. 
Osiel Gomes.

Não Somos Macacos.


Recentemente vimos por meio da mídia atitudes de jogadores e atores colocando-se em defesa daqueles que foram chamados de macacos, fazendo um repúdio contra o racismo. Essa manifestação foi um ato muito expressivo e bonito, que um ser realmente racional sabe fazer: valorizar as pessoas, não importando a cor, pele, cidade, o poder aquisitivo.
Muitos estudiosos penderam para o pensamento do biólogo e geólogo Darwin (1809-1882), quando afirmou que todos os seres humanos tinham primatas em sua árvore genealógica. Após o lançamento do seu livro A origem da Espécie (1859), o homem nunca mais foi tratado como um ser especial, mas um simples animal como qualquer outro.
Essa afirmação de Darwin chocou o mundo, especialmente os cristãos, que chamaram o biólogo de um ser transloucado, desvairado, pois os cristãos seguiam o relato bíblico, afirmando que tudo tinha sido criado por Deus, cada animal segundo sua espécie, e que o homem era o zênite da criação divina. 
As palavras de Darwin foram bombásticas, ela mudou de vez o pensamento sobre o mundo, inclusive o homem, pois a dita teoria da evolução, para alguns, dava uma explicação racional de como os seres humanos e as plantas surgiram, como elas são, e como continuam mudando.
Muitos se apegaram a teoria de Darwin por querer negar o lado religioso, a crença em Deus, como no caso de Richard Dawkins, que disse: “não consigo imaginar como era ser um ateu antes de 1859”. Para muitos a teoria de Darwin levar o homem a não acreditar na existência de Deus.
Darwin era um naturalista, estudou medicina e teologia, nunca foi um aluno brilhante, nem seus pais tinham fé nele, não havia qualquer vislumbre de que ele poderia ser o maior biólogo da história. Mas toda a reviravolta em sua vida se deu quando entrou a bordo do HMS Beagle fazendo sua viagem pela América do Sul África e Austrália. Essa expedição contribuiu para que o biólogo colhesse diversos materiais para sua pesquisa.
Fazendo análises dos objetos colhidos durante sua viagem, especialmente sobre as tartarugas, pássaros, animais pequenos, Darwin chegou à conclusão de que havia nas espécies um tipo de evolução de modo natural que estava em constantes mudanças, elas não eram inertes. 
As análises de Darwin o levaram a seguinte conclusão: as plantas e os animais bem adaptados tinham maior chance de sobreviver e ainda passar para os seus descendentes algumas de suas características. Vamos dar um exemplo sobre a questão da adaptação do ambiente e a melhor chance de viver. Darwin dizia que um pássaro que tivesse um bico grande e que comesse semente teria mais chance de sobreviver, mas caso esse pássaro fosse para um lugar onde só houvesse nozes, ele não se adaptaria muito bem.
Se um pássaro tivesse dificuldades para achar comida, então ficaria difícil sua sobrevivência, seu acasalamento, desse modo o seu bico não poderia ser passado adiante. Mas aquele que vivesse em um ambiente de muitas sementes poderia passar adiante suas características aos seus descendentes. Em uma ilha com muitas sementes, os pássaros de bicos grandes passariam a dominar tudo, eles iriam se evoluir cada vez mais, deixando de ser aquele pássaro original quando chegou à ilha. 
Não entrarei aqui no mérito da questão propriamente da teoria da evolução, que tem suas falhas, pois se trata de uma teoria, sabemos que um dos critérios para se formalizar uma lei, seja ela do campo da biologia, física, química, tem que ser testada em laboratório. A lei da gravitação universal pode ser repetida em laboratório, como também as leis da genética, mas a teoria da evolução é apenas uma teoria.
Nosso propósito aqui é dizer que a teoria da evolução contribuiu para tratar o homem como qualquer objeto, e não um ser distinto dos animais. O historiador Will Duran, diz que Nietsche transformou a teoria de Darwin em pura filosofia. Nietzsche dizia que a vida era uma luta pela existência, na qual os mais capazes sobrevivem, sendo assim, a luta é a maior virtude, e a fraqueza um grande defeito.
A teoria darwinista também atingiu o grande Hitler, pois quando seguiu a filosofia de Nietzsche, que transformou a biologia de Darwin em filosofia perversa, ele aplicou sua política cruel. Nós sabemos que Nietzsche foi quem lançou a ideia do super-homem, desse modo, quando Hitler procura varrer da face da terra todos os judeus, ele estava abrindo caminho à raça superior. 
Hoje presenciamos um mundo marcado pelo pensamento da biologia de Darwin transformada em filosofia negativa, onde o ser humano despreza o outro, tenta mostrar-se superior, busca uma única raça. 
Enquanto o relato bíblico apresenta de modo airoso a criação do homem, que teve um toque especial de Deus, distinguindo-os dos animais, os muitos buscaram sua gênese em teorias sem fundamento, irracional, sem qualquer consciência de Deus por trás dela, sem uma causa maior.
Esquecendo-se que todo homem é imagem e semelhança de Deus, tratando-o como coisa qualquer, e que a superação vem por meio do domínio e de uma raça pura é que atos brutais como o de Hitler, que matou mais de seis milhões de judeus, e aproximadamente trinta mil doentes mentais, vem se repetindo no cenário humano.
Posso dizer que não somos macacos, pois fomos formados à imagem e semelhança de Deus. Gordon Childe dizia que os animais tinham muitas vantagens sobre os seres humanos, isso incluía sua capacidade de sobrevivência, seu coro cabeludo, sua adaptação, mas os animais não tem um cérebro como o do homem e um complexo sistema nervoso que permite desenvolver sua própria cultura, dizer que somos macacos é pura tolice e irracionalidade.
Aqueles que se dizem racistas, tomando de empréstimo a teoria evolucionista, afrontando os de cor negra, se esquecem de que Darwin não fez classificação de quem seria ou não macaco, mas que todos seriam descendentes de primatas, inclusive os brancos. 
O filósofo Davi diz que o homem é um ser especial, que Deus o fez menor do que os anjos; em se tratando de raça, não de raças, o doutor Paulo, em seus escritos filosóficos, afirmou que todos vieram de um mesmo tronco. 
Osiel Gomes.

Nosso lado humano


Às vezes manifestamos atitudes repulsivas diante de alguém que não revela qualquer tipo de bondade, valor à vida. Uma pessoa que tem coração, percebendo uma criança que está morrendo afogada jamais deixará que ela se afogue, mas se lançará às aguas para salvá-la, não levando em consideração a roupa que está vestindo, o sapato que está calçando.
Todo esforço feito para salvar uma vida é importante e releva o lado humano que um ser vivente tem. Nenhuma roupa de valor, nenhuma joia preciosa, nem um compromisso importante, tem mais significado do que a vida. Aquele que não revela compaixão por um cidadão que precisa de ajuda evidencia seu lado monstruoso.
A cada minuto neste mundo uma criança morre de fome, outras são consideradas a escória da sociedade; por vezes pensamos que quantias altíssimas de dinheiro é que vai ser útil para salvar uma vida, porém, qualquer gesto de carinho, ou uma ajuda, seja ela pequena como for, claro, se for feita com amor já vale muito!
É lamentável, mas nossos sentimentos de compaixão só são manifestados diante de acontecimentos trágicos, quando são mencionados efusivamente pela televisão, como o caso da França e outros mais, se esquecendo de que a cada instante milhares e milhares de pessoas estão morrendo sem que alguém se interesse por elas. 
Na análise do filósofo australiano Peter Singer (1946), assim como existe um esforço do homem para salvar uma criança que está morrendo afogada, da mesma maneira ele deve agir para salvar uma criança que morre de fome na África. Quantos não estão gastando dinheiro com coisas supérfluas, desperdiçando comidas, jogando fora roupas que poderiam servir de agasalhos para outras pessoas; quem ama de verdade faz o bem a todos. 
Não podemos viver nossa vida pautada no pressuposto de que outras pessoas vão fazer aquilo que eu deveria fazer. Alguém diz: se eu não ajudar outros vão fazer isso por mim, viver com esse pensamento é agir apenas como expectadores da vida. É sempre bom ter em mente que fazer alguma ação caridosa é de grande valor, pois milhões de pessoas estão clamando por socorro.
Colocar-se na condição de ajudador é relevante, pois essa ajuda pode salvar a vida de quem está precisando de saúde, assistência médica, moradia. A vida neste mundo só poderá se tornar melhor quando a rede de cidadãos cheios de amor não ficarem parados assistindo as catástrofes que destorem a cada segundo nosso mundo humano.
Os ricos podem contribuir com fundos assistenciais para casas de caridade, orfanatos, centros terapêuticos, programas assistenciais, construções de poços artesianos em lugares onde a seca é tremenda. Lembre-se: ações só valem apenas quando saem do papel e que buscam os melhores resultados.
Singer não era a favor de se dar dinheiro ás pessoas carentes, mas sua filosofia era que instituições de caridade fossem mantidas por verbas auxiliares, desse modo pessoas de
grande poder aquisitivo estariam proporcionando condições de vida mais digna para aqueles que não tiveram oportunidade de nascer em um país rico.
Singer tornou-se bem conhecido não somente por sua filosofia marcada por características caridosas, mas também por aprovar a eutanásia, segundo ele, caso alguém estivesse em um estado vegetativo, sem capacidade de escolha, sem chance de se recuperar, dizia ele, a eutanásia seria a morte mais misericordiosa. 
Por causa desse posicionamento Singer passou a ser considerado como um homem sem amor, sem compaixão. Alguns diziam que ele era um nazista, tudo por causa dessa sua opinião, porém, alguém em sã juízo jamais poderia colocar Singer no mesmo nível dos nazistas, pois as mortes praticadas pelos nazistas eram por considerar apenas a raça ariana como sendo superior às demais, as outras eram inúteis, por isso deveriam morrer. 
O lado humanitário estava presente na vida de Singer, ele escreveu um livro abordando o tratamento dos animais: Libertação animal (1970). Para ele, assim como se leva em consideração os interesses dos seres humanos o mesmo deveria ser feito para com os animais. 
Singer é da opinião que todo mundo deveria ser vegetariano, pois na produção de alimentos os animais sofrem demasiadamente. Ele batalhou fortemente em oposição a algumas atividades praticadas contra os animais, as quais lhes provocam dores intensas. É o caso de porcos criados em lugares pequenos, galinhas presas em gaiolas, morte de bois para o abate, tudo isso causava grandes sofrimentos aos animais. 
Muitos posicionamentos de Singer são questionados, mas o fato de usar ele como um referencial nesse artigo é tão somente para destacar a importância do seu lado humano. Quem realmente é humano de verdade jamais desejará ver outros sofrendo na miséria, jamais usará de especismo, dando valor somente a pessoas de sua raça, desprezando outros que tem capacidade.
Singer dizia que o racismo é resultado do especismo, pois os que defendem sua raça só veem perspectivas em suas próprias espécies, impossibilitando outros de não concorrerem a determinados cargos, ainda que sejam mais capacitados do que elas. 
Quem não faz caso dos que sofrem, quem despreza o próximo, quem não leva em consideração a dor do outro, quem é racista, quem só considera seu grupo, seu partido, sua religião, seus interesses particulares, não é humano, mas um monstro.
A cada minuto que se passa estamos vivendo em um mundo ferino, desnaturado, a vida está perdendo o seu valor, o amor se distancia dos nossos corações. No ambiente humano, parece que os homens vivem como máquinas, os sentimentos verdadeiros, as lágrimas de compaixão e ternura não existem mais, e que o sonho de um mundo melhor são quimeras fantasias.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Superando a menor idade

O panorama que se patenteia diante dos nossos olhos, frente a uma sociedade avançada, intelectualizada, elitizada, espiritualizada, parece transparecer que os homens do presente mundo alcançaram seu zênite, sua culminância, mas na realidade, na vivencia prática, o que temos visto é o oposto de tudo isso, pois apesar da socialização, do avanço da intelecto ele não alcançou o estado sapiens, mas ainda vive na condição de homem Neandertal.
Como podemos afirmar que estamos avançando, que saímos da caverna, quando somos ainda dominados por atitudes de infantilidade racional, dando espaço para o crime, racismo, preconceito. Em pleno século 21 estamos presenciando atos praticados por pessoas que se dizem intelectuais, que provam que ainda vivem na condição do homem da caverna. 
Em alguns setores sociais, como no Ensino Médio e Fundamental, Campos Universitários, na política, religião, pelos noticiários são apresentados como locais onde se desenvolvem atitudes de pessoas sem mentalidade, sem crescimento, pois estão fazendo apologia à diferença de raças, classes, e incentivando a volta do espírito anti-humano de Adolf Hitler, que tinha a pretensão de criar a raça superior, ariana, isso através de dogmas e preceitos, que levou a morte milhões de pessoas, inclusive judeus. 
Para entendermos melhor a questão da menor idade, vamos nos ater nas palavras do filósofo Alemão, da cidade de Konisberg, Kant (1724-1804). Tranquilidade, pesquisas, regularidade, metodicismo, tudo isso caracterizava a vida de Kant. Esse filósofo afirmava que com a chegada do Iluminismo o homem superou sua menoridade intelectual.
Kant dizia que para o homem chegar ao verdadeiro conhecimento teria que ser por meio da razão, isso seria possível através de um método, que ele denominou de crítica da razão, é dele a frase: “O homem deveria se deixar guiar pela sua própria razão sem se deixar enganar pelas aparências, pelas opiniões alheias, pelas tradições”. 
Para o filósofo Kant o homem é um ser que tem razão e liberdade, nesse caso ele estaria à altura de fazer á filosofia os questionamentos que sempre perseguiram o homem: O que posso saber? Como Saber? Como devo Agir? O que posso Esperar? O que é o ser Humano?
Na busca pelo conhecimento, em sua obra “crítica da razão pura”, Kant diz que são necessários dois aspectos para se chegar ao conhecimento: o conhecimento empírico, que é denominado também de a posteriori, que é aquele que vem ao homem por meio dos sentidos, por isso que se diz que ele é depois da experiência. Depois vem o conhecimento puro, ou a priori, o qual é anterior à experiência e não está sujeito aos dados sensitivos, mas que é fruto de um processo puramente mental, racional.
Segundo Kant, o conhecimento puro era necessário porque ele teria a capacidade de formular juízos universais e necessários, e não apenas conhecimentos sensitivos. Kant falou de dois tipos de juízos: o analítico e sintético. No primeiro o predicado está contido no sujeito, no segundo, o predicado não está contido no sujeito. 
Quando digo: o quadro tem quatro lados, estou fazendo menção de um juízo analítico, nesse caso o predicado já está contido no sujeito. Mas quando falo: os corpos se movimentam, está claro que o predicado não está presente, o que vai dar margens para inúmeras definições da palavra corpo, pois ela é amplíssima, nesse caso estou fazendo uso do juízo sintético.
No juízo analítico o sujeito já está bem definido pelo seu predicado, não é preciso fazer qualquer tipo de experiência sensitiva para se dizer algo sobre o sujeito, pois ele é universal e necessário. No juízo sintético as definições ou os acréscimos que serão feitos estarão ligados ao tempo, ao espaço, local onde se dá nossa experiência, mas tal juízo não produzirá um conhecimento universal e necessário. 
Diante desses pressupostos epistemológico de Kant entendemos que não é fácil se chegar ao conhecimento, pois segundo ele nós somos sujeitos das nossas tradições e do conhecimento a posteriori, que estão ligadas ao tempo e espaço, ademais, são noções erradas que foram institucionalizadas. 
O racionalismo dogmático afirmava que a mente tinha apenas a função de absorver a realidade, sendo assim, muitos filósofos consideravam a mente apenas como tendo uma atividade mental do sujeito; outro julgavam importante o empirismo, pois o objeto tinha a função determinante do real exterior.
Para Kant existe uma ligação entre o sujeito e o objeto, entre o racionalismo dogmático e o empirismo, quando o sujeito passa a ter contato com a realidade do mundo, ele participa de sua construção mental, ele dizia que das coisas conhecemos a priori só o que nós mesmos colocamos nelas.
A nossa menoridade está firmada em concepções puramente sensitivas, somos levados pelo poder da mídia, nossas opiniões são vazias, sem racionalidade, pautadas apenas no que homens como Hitler e outros disseram, sem que realmente conhecessem as coisas em si. 
Quem já alcançou a maioridade racional não tem pensamentos nem afirmações medíocres, nem discursos racistas, preconceituosos, mas quem deixou de ser criança, as afirmações que fazem sobre os sujeitos são necessárias e delineadas em predicados que realcem a verdade e a beleza da vida.
Ainda vivemos em uma sociedade onde as mulheres e os negros são discriminados, os pobres, rejeitados, isso porque as pessoas estão fazendo juízo de valores pautados em posição, origem familiar, e não nos bons predicados ou virtudes, as quais devem realmente marcar a vida de um bom cidadão. A questão não é ser branco, negro, rico ou pobre, mas sim saber valorizar o outro como pessoa, quem faz isso já alcançou a maioridade racional.
O filósofo Paulo disse que quando era criança falava como criança, pensava como criança, mas quando tornou-se adulto deixou para trás a vida de criança. Está na hora de deixarmos a menor idade racional e procurarmos avançar cada vez mais em um conhecimento perfeito e superior, somente assim alcançaremos o mundo que sonhamos ter.
Osiel Gomes.

A força que nos move

 O substantivo feminino “força” pode ser definido de diversas maneiras, desde robustez e vigor à saúde e energia. A última palavra é a preferível para desenvolvermos nosso ponto de vista sobre aquilo que realmente nos move. Cada ser humano tem latente no seu interior uma força que lhe move e que lhe impulsiona a seguir avante.
 É por meio da força que o homem procura alcançar o progresso: construir, prosperar, avançar. Mas a palavra força carrega no seu bojo tanto o aspecto positivo quanto o negativo. Do lado positivo ela pode falar de virtude, prestígio, energia, moral, mas no seu sentido negativo expressa violência, obrigação indesejável. 
 Vivemos hoje num mundo em que o avanço científico e tecnológico é visível: a denominada era cibernética, em que o controle de todas as coisas são bem rígidas. Mas diante de todo esse avanço a contrariedade no sistema humano está bem confuso, pois não se pode definir que tipo de força está movendo o mundo e em que direção essa energia deseja nos levar.
 Não podemos dizer que o mundo está sendo movido pela força do amor, ou pela força do bem, da verdade, da moral, pois o que se percebe é que as pessoas, na sua maioria, estão dominadas pela força da ganância, do poder, do racismo, da desigualdade social, da violência. Muitos estão sendo movidos pela força do interesse; a energia que domina seu coração é a da volúpia, buscando tão somente os prazeres, desprezando o lado ético da vida.
 Perguntamos: se Heráclito, o pai do pensamento dialético, vivesse hoje, será se ele estaria certo ao afirmar que o mundo, por meio do processo de transformação que sofre, estaria de fato caminhando para o progresso?
Heráclito vivia em Éfeso, cidade da região Jônica, pouco se sabe sobre sua vida, mas dizem os estudiosos que ele foi um grande pensador, o primeiro a lançar os fundamentos do pensamento dialético.Para ele o mundo estava sempre em constante transformação e movimento. É dele a famosa frase: “Não podemos tomar banho duas vezes na água do mesmo rio, pois as suas águas se renovam a cada instantes. Não tocamos duas vezes o mesmo ser, pois esse modifica continuamente sua situação”. 
O pensamento de Heráclito é que tudo é um constante devir, ou seja, um fluxo inalterável que é impulsionado por forças contrárias.  Ele dizia: Se existe o bem, também existe o mal, o belo e o feito, o bom e o ruim, a justiça e a injustiça, a alegria e a tristeza, o racional e o irracional. É por meio dessa contrariedade que as coisas se modificam e evoluem. 
Ele é conhecido como o filósofo do constante vir a ser e do devir. Para Heráclito a realidade dinâmica do mundo era caracterizada como o agir do fogo com suas eternas chamas que colocava os seres em constantes movimentos. É Dele a frase:
“Tudo flui, nada persiste, nem permanece no mesmo lugar. O ser não é mais que o vir a ser”. 
Podemos dizer que na teoria o discurso de Heráclito é bem organizado, e que a contrariedade presente no mundo traz o progresso, mas acredito que se ele estivesse entre nós mudaria seu pensamento, pois a força que hoje move o coração de muitas pessoas não está conduzindo ao progresso, a uma vida dinâmica.
Qual seria o bem que um mundo político sem justiça poderia trazer á sociedade? Qual a dinâmica que a prática do mal pode proporcionar à humanidade? E que progresso, transformação, uma sociedade hedonista pode facultar? 
Afirmamos que o progresso está na força do verdadeiro amor que deve mover os nossos corações.  A força do amor nos conduz a prática da justiça, da verdade, da paz, da comunhão, da harmonia, do querer o bem do outro. A força do amor não conduz a contrariedade negativa, inverdade, injustiça, mentira, pois sua essência é ser o que de fato é, sem máscara, sem dissimulação, mas puro e verdadeiro.
Se de fato todas as nossas ações fossem movidas pela força do amor o mal já teria sido erradicado do nosso meio, a violência não teria vez, pois não é o uso da força, no seu aspecto de violência que vai trazer paz a terra, pois fogo não se apaga com fogo, mas com água. 
Um coração movido pelo amor não revida com as armas da mentira, do ódio, do ostracismo, da ignorância, do preconceito, foi por isso que Jesus disse que quem quisesse se aproximar de Deus deveria ser com um coração movido pelo amor, pois nesse caso o sentimento da alma seria verdadeiro, o lado intelectual evidenciaria um saber sem orgulho, sempre querendo fazer o bem. Portanto, deixemos que a verdadeira força do amor nos mova para aquilo que é harmonioso, belo e perfeito.

Homem: um ser consciente?

Segundo Aurélio, a consciência é um atributo que pertence ao homem, por meio dela ele pode conhecer e julgar sua própria realidade.  A consciência é um saber com consciência, através dela o homem toma conhecimento da sua própria existência. Essa consciência é que melhor caracteriza o ser humano, mostra que ele está no mundo. 
O homem distingue-se do animal, pois enquanto o animal não tem uma consciência racional, não sabe o porquê de sua existência, o ser humano tem consciência de sua existência e sabe qual é o papel que deve desempenhar neste mundo .
O homem é denominado e chamado de sapiens, que tem a capacidade de se autoprojetar, criar, desenvolver-se por meio da sua própria consciência. No dizer de Teilhard Chardin - o animal é um ser que sabe, mas, ele não tem a consciência para saber que sabe, ele não pode criar, desenvolver-se, fazer invenções, construções, voltar-se para si mesmo como um ser que pensa, que reflete, ele está fechado para um domínio real. 
Essa consciência leva o homem a ser diferente de todos os demais animais. O homem pode autodesenvolver-se porque pode voltar-se para si mesmo, fazer um exame subjetivo, interno, pode,introspectivamente , fazer uma análise de si e lançar-se para fora de si na busca da compreensão do mundo que o cerca. 
Com essa consciência o homem busca constantemente compreender o mundo que o cerca, procura conhecer a si mesmo, busca saber os porquês das coisas, ele é uma pessoa que caminha sempre na busca da compreensão da realidade. Cabe bem aqui as palavras de Schelling: “Todo nosso saber permanecerá filosofia, isto é, sempre um saber apenas em progresso, cujo grau superior ou inferior devemos apenas ao nosso amor à sabedoria, isto é, a nossa liberdade”. 
O que podemos entender com essa expressão é que o homem tem um saber progressivo, não estático, imóvel, mas com sua consciência busca compreender as coisas para poder moldá-las ao seu modo, sendo assim, o homem se torna um ser dinâmico, em processo, sempre em construção, aberto as mudanças, tudo isso só é possível ao homem porque ele é um ser com consciência. 
Com essa consciência o homem pode fazer um exame de si como também da realidade, dos objetos exteriores, do outro, que esta fora de si. Quando o homem se autoanalisa está tomando uma consciência de si, essa avaliação introspectiva pode ser denominada de reflexão, que é um autoexame, uma analise mental de si, com isso ele pode criar, inovar, projetar, desenvolver-se. 
Por meio de sua consciência o homem pode também fazer um análise da consciência do outro, isso significa que ele pode fazer uma observação, nesse particular ele pode absorver, reformular, rever, escutar, renovar. 
A reflexão e a observação são importantíssimas quando feitas por esse ser consciente, o homem, pois através delas ele não somente tem consciência de si, mas também do outro. 
O senso crítico de si faz o homem olhar para suas vantagens e desvantagens, perfeições e imperfeições. O senso crítico do outro leva o homem a olhar para fora de si: os objetos exteriores, as coisas que o cercam.  A consciência de si e do outro devem andar juntas, pois caso o homem volte-se apenas para si, pode isolar-se do mundo e de seus problemas, não procurando ajudar o seu semelhante. Se o homem atentar apenas para o outro com certeza perderá sua identidade. 
Lamentavelmente estamos em um mundo de seres com consciência, mas que estão olhando apenas para si mesmos, não fazendo caso da vida do outro. O que os jornais apresentam: desigualdade social, separação de classe, racismo, morte, roubo, estupro, etc., prova que o homem não está em sã consciência, mas que se tornou pior que um animal irracional. 
Como podemos dizer que o homem está progredindo em sua consciência para consigo e o próximo, que está ao seu redor, quando procura a guerra, e não a paz, a separação, e não a comunhão, a aparência, e não a sinceridade, o ódio, e não o amor, a posição de destaque, e não os bons valores? Frente a tudo isso indagamos: O homem é um ser com consciência?
No processo da consciência humana deve existir aquilo que chamamos de dialética, como dizia Wolfgang Goethe (1749-1832), “O homem só conhece o mundo dentro de si se tomar consciência de si mesmo dentro do mundo”. É desse modo que se alcança o progresso, a harmonia que desejamos. 
Osiel Gomes.

Paradoxos

 Paradoxo fala daquilo que é contrário ao comum, absurdo, contrassenso, disparate. Podemos dizer que hoje essa palavra está sendo usada na prática em todos os setores da vida, ainda que de modo inconsciente, porém se percebe o modo leviano em que os problemas relacionados à nossa vida estão sendo tratados. 
O homem cria valores para a vida, mas depois ele mesmo mata. Fala de paz, mas cria a guerra, defende a ética, mas sua conduta é repreensível, fala de bons costumes, mas cria péssimos comportamentos que desestruturam toda a vida em sociedade. Nessa terra o homem é ao mesmo tempo , anjo e demônio, Deus e diabo. Ele cria seu céu e próprio  inferno, pois se encontra em um grande paradoxo.
Nas palavras da doutora Marilyn Ferguson o espírito de nossa época se encontra cheio de paradoxos. É, ao mesmo tempo, pragmático e transcendental; é ao mesmo tempo político e apolítico. 
Para entendemos melhor a questão do paradoxo mister se faz recorrermos ao filósofo matemático e físico Frances Blaise Pascal. Seu pensamento girava em torno da insuficiência humana, segundo ele o homem é magnífico e ao mesmo tempo um miserável, ele pode alcançar grandes verdades como também pode criar vários erros, diante disso pergunta: 
“No fundo, o que é o homem na natureza? É nada em relação ao infinito, é tudo em relação ao nada, algo de intermediário entre o nada e o tudo”.
 Enquanto os outros procuravam dar credito à razão elevando o homem a uma grande posição, pois era assim que se caracterizava o século XVII, aparece esse filósofo com essa ideia, afirmando que o homem não pode conhecer o início de todas as coisas nem também o fim delas, ainda que buscasse essa compreensão e compreender a realidade como tal lhe era impossível. 
Para Pascal o homem está limitado apenas às coisas aparentes, só mesmo o Criador de todas as coisas é quem pode conhecer e compreender tudo, ninguém mais. Enquanto outros filósofos colocavam a razão no pódio, Pascal dizia que a razão humana era incapaz de provar a existência de Deus, nesse particular seu posicionamento contradiz Tomas de Aquino. Segundo Pascal a crença em um Deus que jamais pode ser provada, fica por conta da fé. 
Ele diz que a grandeza da razão está em se render, reconhecer que existe uma infinidade de coisas que ultrapassam nossa razão, por isso ele diz: “o coração, e não a razão, é que sente Deus, isto é a fé: Deus sensível ao coração e não a razão”. 
Pascal se destaca nesse prisma quando ataca os deuses dos filósofos, dos racionalistas, que eles criaram como sendo um engenheiro do mundo, mas depois de criar tudo segue seu caminho em cego mecanicismo. Pascal ataca Descarte, como também o deus geométrico. 
Pascal busca, com o seu pensamento, reativar a mente e o esforço de todos para que se voltem para o Deus de amor e de consolação. Esse Deus que faz com que cada ser humano sinta a sua própria miséria e a misericórdia infinita de Deus. 
 Pascal afirmava que era triste a situação do homem que procura desvendar os mistérios do mundo por meio do seu ver racional, ou seja, por meio da sua visão ilimitada. 
O paradoxo visto no pensamento de Pascal faz parte do contexto do mundo moderno, pois apesar do grande avanço tecnológico, cientifico que o homem trouxe, ele ainda vive no desespero de não poder salvar a si mesmo. Considerado um deus, o homem não pode salvar seu próprio mundo, nisso está provado sua insuficiência. 
Em tempos remotos o homem foi considerado um ser magnífico, sua capacidade racional era louvada, suas descobertas eram aplaudidas como se fosse um deus, mas ao mesmo tempo se sentia um miserável, pois não tinha nem a capacidade de saber quando as coisas começavam e terminavam.
Nota-se o desespero do homem moderno, com todo o saber racional que tem, não poder controlar as mazelas que zurziam a humanidade; pelo seu ver racional não consegue embelezar o mundo caótico diante de si, antes, cada vez mais o vê embabelado, sem considerar a vida, sem valorizar os princípios morais. 
Pascal está certo quando afirma que os paradoxos desse mundo não serão resolvidos através de um ver racional, de uma busca desenfreada pela compreensão daquilo que é incompreensível, pois existem muitas coisas que jamais serão compreendidas por meio da razão, mas que necessita apenas do elemento fé. 
Portanto, a razão humana tem que se render com humildade diante da fé, para poder perceber suas misérias e a necessidade de um ser superior, Deus. Conforme Jesus disse, é na pobreza do nosso espírito que herdaremos o reino dos céus, e seu favor divino se manifesta ao nosso desespero, quando reconhecemos nossa miséria humana. 
Paulo só percebeu a grandeza da graça de Deus quando desceu do seu pedestal racional e judaico, enquanto o seu eu firmava-se nas tradições religiosas e no legalismo, sua vida era um constante paradoxo, mas quando olhou para si e se viu um miserável, pôde então desfrutar da graça salvadora de Deus.
Osiel Gomes.

domingo, 6 de dezembro de 2015

A falta de justiça

 A cada instante estamos nos revoltando com o mundo político de hoje, os noticiários e jornais não param de mostrar os inúmeros escândalos nos quais muitos líderes estão envolvidos, e o que pesa mais é saber que os recursos desviados são aqueles que poderiam ajudar na Educação, Saúde, segurança, setores que estão fragmentados em nosso país.
 Mas tudo isso está acontecendo por falta da verdadeira justiça, a qual tem o papel de julgar em conformidade com as leis, fazendo valer o direito de cada um. A verdadeira justiça envolve não somente a questão do conhecimento jurídico, o poder dos tribunais, mais especialmente a consciência de cada pessoa. Quem tem uma boa consciência jamais praticará atos de injustiça, antes dará a cada pessoa aquilo que lhe é de direito, pois essa é a virtude da real justiça.
 A ausência da correta justiça é uma realidade não somente no mundo político, mas também no religioso, no mundo acadêmico, e na vivência prática de cada ser humano. A falta da justiça tem feito com que as pessoas se tornem insensíveis, de modo que cada um procura viver do seu jeito. 
Se a verdadeira justiça estivesse sendo praticada entre os homens, a desigualdade social seria extinta, os pobres e necessitados seriam tratados com amor; os doentes teriam acesso à saúde, os ricos não seriam tão ricos como são hoje, pois onde existe justiça as pessoas são valorizadas, respeitadas.
 O nosso mundo se torna cada vez pior por causa das injustiças; existem pessoas de bom coração, de boa índole, mas que são injustiçadas, daí ficam a pensar que a “vida é que é injusta”, pois não lhe propiciou condições favoráveis para crescer, progredir; pensam que a desigualdade é uma questão de falta de oportunidade, não entendendo que todo esse marasmo é resultado de mundo construído na falta da justiça verdadeira.
 O pensamento de John Rawls, um estudante de Havard, mudou a concepção de muitos sobre a justiça, quando lançou sua obra “Uma teoria da justiça”, jamais pensou que seu trabalho iria ter grande repercussão como teve, influenciando a vida de acadêmicos, literários, advogados, filósofos, tendo uma venda consideravelmente expressiva. 
Rawls foi um combatente da Segunda Guerra Mundial, ele testificou o dia em que a bomba atômica foi lançada sobre a cidade Japonesa Hiroshima. Toda essa experiência truculenta levou esse homem a entender que a guerra não compensa, de modo que ele propôs a ser um defensor da paz e a lutar por um mundo melhor e mais justo. 
Diante do que vivenciou, Rawls procura desenvolver uma teoria sobre a justiça, diferentemente de outros, ele não procurou lutar por meio dos clamores populares, ou buscando um apoio político, mas entendeu que sua arma seria a escrita. O que ele colocava nas páginas de sua obra era o que se passava em sua mente e no seu coração: as pessoas deveriam saber como conviver e entender o porquê do Estado influenciar em suas vidas.
Na filosofia de Rawls o grande problema existente é que as pessoas vivem dois tipos de mundo, aquele que é construído por indivíduos poderosos, os quais pensam em construir uma sociedade apenas com pessoas poderosas, as quais exibem luxo, poder, glória, mas nessa sociedade existem os pobres, os quais não tem nenhuma chance de crescer.

Rawls dizia que o cenário exposto acima gera um tipo de pensamento distorcido e negativo, pois as pessoas passam a entender que o mundo melhor é aquele construído em cima de status, posição, domínio. Rawls propôs o que ele chamava de “a posição original”, que estava firmado em um pensamento mental, no qual as pessoas poderiam idealizar uma sociedade sem pensar no que teria ou seria, mas sim nos princípios justos.
A teoria da justiça proposta por Rawls estaria fincada na base de se escolher sem saber o que o seria, que lugar exerceria na sociedade, mas o que valeria eram dois princípios fundamentais: liberdade e igualdade. Tendo liberdade de crença, de voto, de expressão, as pessoas viveriam de modo mais feliz; essa liberdade não poderia ser tolhida sob hipótese alguma, e sua proteção deveria estar acima de tudo.
Na questão da igualdade, Rawls dizia que a sociedade deveria ser organizada, de modo que procurasse se estruturar para conceder mais privilégios e oportunidades aos menos afortunados, aos pobres, àqueles que tiveram sua liberdade restringida, como no caso dos negros, das mulheres. 
John Rawls pensava em uma sociedade que fosse governada pela consciência da liberdade e igualdade, pois tão somente desse modo as diferenças e injustiças seriam debeladas. Enquanto alguns homens pensarem que uma sociedade verdadeira se constrói com coisas supérfluas, sem atentar para a verdadeira justiça, nós estaremos sempre caminhando para o descompasso da vida que anelamos.
Às vezes se ouve alguém criticar os direitos que os negros estão tendo hoje, mas é bom saber que eles não cresceram por serem mais ou menos ignorantes do que os brancos, mas sim por que sua liberdade foi cerceada, seus valores e crenças foram escamoteados, de modo que ficaram estagnados no meio do caminho.
Uma sociedade marcada pela verdadeira justiça caminha para o progresso, pois ela valoriza a liberdade e a igualdade; quando as pessoas são conscientes de que sua liberdade não é tolhida podem produzir mais, e vivendo sem serem tratadas com indiferentismo, mas respeitadas como cidadãos, fazendo valer seus direitos sociais e jurídicos, então a sociedade avançará mais, esse era um dos pontos fundamentais do Iluminismo.

Osiel Gomes.

A dialética da vida


Numa definição simplista a dialética é vista como um processo comum gerado por oposições que provisoriamente se resolvem em unidades. Os contrassensos, os desequilíbrios presentes no mundo podem ser entendidos de modo dialéticos. Soaria estranho eu dizer que de alguns acontecimentos trágicos surgem soluções e ações grandiosas, mas é isso que a vida nos revela. 
Algumas coisas boas que temos hoje na vida política religiosa, em relação aos direitos femininos, aos negros, surgiram através de processos bem dolorosos, muitos deles envolvendo morte, descaso, desrespeito à vida. Um exemplo bem atual é a lei Maria da Penha. Acredito que todos sabem como essa lei surgiu. Assim, podemos dizer que o pensamento dialético de Hegel está bem vivo no nosso meio.
 As contrariedades na política, educação, religião, na vida, não tem um fim em si mesmo, mas procura desenvolver-se através de seus próprios movimentos. Para nossa argumentação tomaremos de empréstimo a filosofia de Hegel, o qual via a realidade não como substância, uma coisa em si, como pensava Schelling, mas como um sujeito que estava em constante movimento.
O filósofo Georg Wilhelm Friedrich Hegel nasceu em Stuttgart, Alemanha, (1770-1831), foi um expoente do “Idealismo Alemão”, tendo como ponto principal o racionalismo, é dele a célebre frase: 
“Tudo que é real é racional, tudo que é racional é real”. 
Os estudiosos de Hegel afirmam que ninguém conseguiu montar um sistema filosófico tão lógico como o dele, isso pode ser comprovado nas palavras de Herbert Marcuse (1898-1979), que considera o pensamento hegeliano a expressão máxima do idealismo cultural, que procura fazer do pensamento o refúgio da razão e da liberdade.
Um ponto que merece destaque em Hegel é que ele tenta, frente a todas as suas questões, conciliar filosofia com o realismo. As obras de destaque desse filósofo são: Fenomenologia do Espírito, Princípios da Filosofia do direito sobre a história da filosofia. 
Vendo a realidade como um sujeito, e não como coisa, Hegel deixa claro que ela tem seu espírito, sua própria vida, é nesse espírito que se encontra o dito movimento dialético, ou melhor, as contrariedades presentes na vida.
Na filosofia hegeliana, a síntese superior da vida, ou seja, uma vida mais perfeita, melhor, só aparece depois que acontece um processo dinâmico de transformações, mutações, que pode envolver dores, aborrecimentos, desagrados, insatisfações. 
Hegel dá um exemplo bem natural para se entender a dialética da vida, ele diz que o botão da flor desaparece no seu florescimento, ao surgir o fruto a flor é declarada falsa, todavia, nesse processo dinâmico é perceptível a unidade orgânica que desencadeia um só movimento dialético na constituição da vida interior.
O que podemos entender com o pensamento dialético de Hegel é que a vida é bem dinâmica, não estática, ela pode nos propor diversos ruídos: bons ou ruins, mas sempre
buscando um equilíbrio em tudo. O nosso crescimento como ser humano, como bom cidadão, depende desse processo dialético, através dele é que podemos enriquecer nossos conhecimentos.
Segundo Hegel a dialética não é um método, como dizia Platão, nem uma substância, mas sim um espírito em constante movimento, daí o motivo do seu desenvolvimento, que se dá da seguinte forma: Em si, fora de si, para si. 
A semente em si é uma planta, ao morrer como semente sai de si, ao voltar ser uma planta é o retorno para si. Esse movimento é marcado pelo devir e pela negação. O devir é  um momento que prepara a chegada de outro momento; na negação o primeiro deixa de existir para que o segundo apareça.
Nesse movimento proposto por Hegel é que está presente a síntese, tese, antítese. Esse filósofo deixa claro que para entender o processo dialético é imprescindível que o ser humano saia da mesmice, do trivial, do comum, e procure um saber absoluto por meio da razão, desse modo pode superar-se.
Acredito que as contrariedades presente no sistema de governo, na educação, na justiça, no respeito para com o próximo, e a crise que o Brasil está enfrentando nesse momento, são processos dialéticos que propõem a cada um de nós a busca por uma vida mais justa, ordeira. A harmonização tão sonhada pelos brasileiros só será alcançada quando todos olharem para si, saírem de si, voltarem para si.
No exemplo de Cristo está claro, sua vida foi marcada por um processo dialético, muitos não entendiam o porquê de sua missão, mas Ele disse que era necessário sair de si para que o mundo tivesse a verdadeira vida. Um texto bíblico que esclarece o processo dialético da vida do grande mestre é esse: 
“Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto”.
Osiel Gomes.