domingo, 21 de agosto de 2016

Livre arbítrio

Introdução
À luz da Bíblia, entendemos que Jesus Cristo foi enviado por Deus para salvar todo aquele que Nele crer (Mc 16.15). Sendo assim, é necessário que o homem, frente à mensagem do Evangelho, possa responder positivamente a esse chamado, que depende também da vontade humana de querer fazer a vontade de Deus (At 2.38; Jo 7.17).
São abundantes os textos bíblicos que falam da salvação que é concedida a todos os homens, desde que o mesmo creia na mensagem salvadora (Rm 8.32; Tt 2.11). Somente o ser humano tem a capacidade de crer e desejar querer fazer a vontade de Deus, e desenvolver sua salvação com temor e tremor (Fp).
1 O livre-arbítrio no contexto da Bíblia
1.1 Deus e o nosso livre-arbítrio
A mensagem do Evangelho mostra ao pecador o plano perfeito da salvação, desse modo ele pode com sua vontade livre querer fazer ou não a vontade de Deus; no momento em que o pecador se arrepende, Deus lhe concede graça para desenvolver sua salvação com alegria.
Há uma dialética no relacionamento Deus e homem, pois Deus sempre vem ao encontro do homem, mas o homem coopera com o Senhor. Ciente de que é um pecador e que precisa de um salvador através da pregação do evangelho, a qual gera fé para o arrependimento (Rm 10.17), e por meio do seu livre-arbítrio, o homem pode converter-se a Cristo Jesus.
A cooperação de Deus e do homem no processo da salvação é bem explícita nas páginas seletivas da Bíblia. Para poder achegar-se a Deus o ser humano recebe Dele a vontade de crer, a vontade de ir ao seu encontro (Ef 2.8; Gl 5.22). Hoje qualquer ser humano pode achegar-se a Deus, pois Ele se achegou a nós por meio da morte de seu Filho, Jesus Cristo (Jo 12.34).
Pelo livre-arbítrio o ser humano pode fazer sua decisão de crer em Cristo ou não, pois já tem conhecimento das verdades divinas, as quais geram responsabilidades e coloca o homem na condição de ser julgado.
Muitos são conscientes que são pecadores, sabem que precisam tomar o caminho certo para Deus, que é crer no seu Filho para ser salvo, mas não querem fazer isso porque têm de renunciar a muitas coisas (Mt 16.24), o que gera angústia e aflição no seu coração. A salvação do pecador é algo instantâneo, mas os passos que são dados a ela não são automáticos, pois envolvem certas experiências.
A salvação é ofertada por Deus a todos os homens, indistintamente, ele pode aceitar o convite divino ou rejeitá-lo, pois Deus respeita o livre-arbítrio de cada um. Esse ponto pode ser comprovado através do que João escreveu, esclarecendo que a capacidade de escolher pertence ao homem (Ap 22.17).
1.2 O livre-arbítrio como essência puramente humana
O homem foi formado por Deus como um ser pensante, criativo, sendo assim é impossível que ele venha fazer algo sem motivo ou razão. O homem tem a capacidade de escolha, de mudar o modo de pensar, e é responsável pelo que faz, pois ele foi capacitado da livre-agência.
Em se tratando de crer em Cristo, sabemos que, devido à natureza pecaminosa, o homem sempre é tendente ao pecado, para ele é sofredor trilhar o caminho da salvação, da santidade, pois requer uma negação tanto do seu mundo interior como exterior, mas ele pode vencer tudo isso seguindo o exemplo de Cristo Jesus.
A escolha do homem separar-se de Deus foi algo livre (Rm 1.18), assim, vivendo afastado de Deus, sempre o mesmo pende para as coisas carnais. Todavia, isso não quer dizer que ele não tenha conhecimento do bem e do mal, e por meio do seu livre-arbítrio pode escolher um ou outro, porém, como está em pecado, sempre suas escolhas serão para aquilo que contraria a vontade divina.
1.3 O livre-arbítrio na vida dos não regenerados
Aquele que ainda não nasceu de novo pode praticar coisas boas, ademais, ele pode deixar que o bem seja a força mais preponderante no seu ser. Todo homem, seja ele crente ou não, pode fazer o bem quando realmente desejar fazê-lo.
A capacidade de fazer o bem é possível porque a alma humana foi criada segundo a imagem de Deus, essa alma não está tão corrompida que não consegue fazer as coisas certas. Podemos crer também que os atos de bondade praticados pelo ser humano sofre influência do Espírito Santo de Deus.
Por meio da influência do Espírito Santo de Deus o homem caído pode ser iluminado para dirigir-se a Cristo Jesus. Um incrédulo pode aceitar a Jesus como salvador, ainda que tal se encontre na condição de caído, fraco, morto espiritualmente, porém, no momento em que se decide seguir o caminho da fé, Deus vem ao seu encontro dando-lhe as bênçãos de Cristo.
2 A importância do livre-arbítrio na vida do homem
2.1 O livre-arbítrio no aspecto moral e ético
O livre arbítrio na vida do homem é importante pelo fato de lhe conceder a capacidade e responsabilidade de tomar suas decisões, pois é um disparato ter obrigações morais sem capacidade de fazer escolhas. Paulo diz que cada homem será julgado por meio de suas obras (Rm 6.2), sendo assim não seria ilógico julgar alguém que não foi lhe concedido condições de fazer suas escolhas?
Culturalmente, nenhuma sociedade julga alguém sem que primeiro coloque em avaliação sua escolha, considerando seu posicionamento, se poderia agir ou não de outra forma. No aspecto ético, as recompensas e os castigos são feitos levando em consideração a escolha do indivíduo, pois por meio de sua capacidade de escolha, pelo seu livre-arbítrio, ele poderia decidir de modo adequado ou não.
2.2 As exigências morais e o livre-arbítrio
Dizer que o homem não é um ser com livre-arbítrio fere seriamente as Escrituras Sagradas, pois ela exige uma moral da parte do homem, mostrando claramente como é que Deus quer que ele viva. Pelo teor bíblico está claro que o homem depois de ter sido salvo pode vir a cometer falhas (1 Co 9.26; Fp 2.12).
Uma prova clara de que o livre-arbítrio está presente no homem pode ser visto nas exigências bíblicas que são feitas para que ele possa andar segundo o querer divino. O homem tem a capacidade de obedecer ou desobedecer, de aceitar ou rejeitar os propósitos divinos por meio de sua vontade.
Exigir um procedimento moral do homem lhe prometendo recompensa ou punição, bênção ou maldição, sem que o mesmo tenha capacidade de fazer suas escolhas, seria, na verdade, uma incoerência divina.
2.3 Respondendo positivamente ao chamado divino por meio do livre-arbítrio
A Bíblia sagrada, quando apresenta o plano da salvação ao homem, exigindo arrependimento e fé, mostra que é de sua inteira capacidade fazer a escolha certa (1 Tm 2.4; At 17.30). Dizer que o homem não é um ser que pode fazer sua própria decisão coloca em descrédito tais textos bíblicos, pois nega ao mesmo a possibilidade de atender ao querer de Deus.
As leituras dos textos mencionados acima, caso não fossem possíveis de serem praticados pelos homens, colocaria a Bíblia em pleno descrédito, não somente isso, desenvolveria uma severa crítica e zombaria para com Deus, que diz algo em sua Palavra que jamais pode ser vivido pelo ser humano.
Podemos asseverar que o homem pode, sim, responder ao chamado universal da salvação porque de fato Deus sabe que ele tem capacidade para isso, razão pela qual enviou seu Filho para morrer por todos os pecadores (Jo 3.16). Caso o homem queria ele pode ser salvo crendo em Jesus.
Precisamos ainda destacar aqui a importância da pregação para a salvação do homem, é bem verdade que os mensageiros do evangelho não pregam procurando encontrar um eleito, antes, o mesmo é consciente de que o evangelho é destinado a todos, que a pregação oportuniza aos sedentos a gloriosa salvação, por isso Paulo disse que devemos pregar a tempo e fora de tempo (2 Tm 4.2).
3 O livre-arbítrio e a graça de Deus
3.1 Capacitado a buscar a Deus
O apóstolo Paulo disse que por causa do pecado o homem separou-se de Deus (Rm 3.23). Nesse caso, a possibilidade de voltar-se para Deus entorpeceu-se grandemente, porém, conforme está escrito na Bíblia, o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus, o que quer dizer que existe nele algo que lhe bafeja buscar a Deus (Dt 4.29; Is 55.6).
Outro meio usado por Deus para que o homem possa lhe buscar está na “graça salvadora”, que é sacrifício de Jesus na cruz do calvário. Na cruz, por meio de Cristo, Deus se revela aos homens, fazendo o necessário a fim de que o pecador possa arrepender-se e crer de coração para vida eterna (Jo 12.34).
Por causa do pecado o homem ficou morto espiritualmente, de modo que ele não podia por si mesmo buscar ou mostrar qualquer interesse por Deus (Rm 3.10), mas essa impotência é vencida através da imagem de Deus no homem e por meio da mensagem da cruz, a qual desperta no seu coração o desejo de buscar a Deus.
O apóstolo Paulo diz que há um gemido na alma do homem pela busca de sua libertação espiritual (Rm 8.21), e seja qual for o pecado, ainda que viva na mais deplorável situação espiritual, ele é capacitado a buscar ao Senhor por meio da mensagem da cruz de Cristo e pelo trabalhar do Espírito Santo de Deus (Jo 16.7).
O homem pecador é consciente que não deve viver na prática do pecado, na sua mente, no seu coração, há um grande desejo de que sua vida seja transformada, ele ofega por uma comunhão com o divino (Sl 42.2). Todos quantos têm sede de Deus podem vir a Cristo que Ele mata essa sede (Jo 7.38).
3.2 O livre-arbítrio na vida do regenerado
No posicionamento filosófico o livre-arbítrio diz que o homem pode agir totalmente sem causa, por mero capricho, o que não é verdade, pois os homens agem mediante causas biológicas, culturais, espirituais. Cedendo a essas forças o homem pode fazer o que não quer, porém isso não quer dizer que ele  esteja agindo sem causa.
Quando o homem aceita a Jesus Cristo como seu salvador sua vida é mudada completamente e, sendo transformado, uma nova vontade é implantada dentro do seu coração, de modo que ele se sente capacitado a ser um bom servo de Jesus Cristo, pois o Espírito Santo que habita em sua vida lhe concede graça para que seja semelhante a Cristo (Rm 8.29).
3.3 Uma vontade superior
Transformado pelo poder do Evangelho de Cristo, o homem recebe uma nova vontade, a qual lhe capacita a querer fazer a vontade de Deus, pois agora a vontade divina com a humana está amalgamada, de modo que o homem está liberto para seguir aquilo que é perfeito (Mt 5.48). Por meio dessa nova vontade o cristão procura viver em santificação, pois seu alvo é firmar bem sua salvação (2 Ts 2.13).
No encontro de Deus com o homem, que se dá através da cruz de Cristo, a verdadeira liberdade acontece (Jo 8.32), de modo que o homem, por meio do seu livre-arbítrio, pode viver a bênção da plenificação da salvação em sua vida, pois não vive mais debaixo da lei do pecado, mas sim na lei do Espírito Santo de Deus (Rm 8.1,2).
Conclusão
Queridos, a predestinação e o livre-arbítrio, segundo a Palavra de Deus e quando bem entendidos, geram gozo no coração do cristão, pois elas tratam das verdades divinas que visam a redimir o homem caído, levando-o a querer fazer a vontade de Deus. Através da vontade humana Deus trabalha no propósito de realizar seus decretos.
Pr. Osiel Gomes

Um comentário:

  1. Em pecado nasci e em pecado concebeu-me minha , nisto não tivemos escolhas nem arbítrio.Se um dia tivemos livre-arbítrio, não o temos mais. Essa idéia foi infiltrada no cristianismo e ganhou força e sedimento teológico com os argumentos de Agostinho de Hipona, mas não é encontrada no Taumud e nem no credo apostólico.

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