domingo, 6 de dezembro de 2015

A dialética da vida


Numa definição simplista a dialética é vista como um processo comum gerado por oposições que provisoriamente se resolvem em unidades. Os contrassensos, os desequilíbrios presentes no mundo podem ser entendidos de modo dialéticos. Soaria estranho eu dizer que de alguns acontecimentos trágicos surgem soluções e ações grandiosas, mas é isso que a vida nos revela. 
Algumas coisas boas que temos hoje na vida política religiosa, em relação aos direitos femininos, aos negros, surgiram através de processos bem dolorosos, muitos deles envolvendo morte, descaso, desrespeito à vida. Um exemplo bem atual é a lei Maria da Penha. Acredito que todos sabem como essa lei surgiu. Assim, podemos dizer que o pensamento dialético de Hegel está bem vivo no nosso meio.
 As contrariedades na política, educação, religião, na vida, não tem um fim em si mesmo, mas procura desenvolver-se através de seus próprios movimentos. Para nossa argumentação tomaremos de empréstimo a filosofia de Hegel, o qual via a realidade não como substância, uma coisa em si, como pensava Schelling, mas como um sujeito que estava em constante movimento.
O filósofo Georg Wilhelm Friedrich Hegel nasceu em Stuttgart, Alemanha, (1770-1831), foi um expoente do “Idealismo Alemão”, tendo como ponto principal o racionalismo, é dele a célebre frase: 
“Tudo que é real é racional, tudo que é racional é real”. 
Os estudiosos de Hegel afirmam que ninguém conseguiu montar um sistema filosófico tão lógico como o dele, isso pode ser comprovado nas palavras de Herbert Marcuse (1898-1979), que considera o pensamento hegeliano a expressão máxima do idealismo cultural, que procura fazer do pensamento o refúgio da razão e da liberdade.
Um ponto que merece destaque em Hegel é que ele tenta, frente a todas as suas questões, conciliar filosofia com o realismo. As obras de destaque desse filósofo são: Fenomenologia do Espírito, Princípios da Filosofia do direito sobre a história da filosofia. 
Vendo a realidade como um sujeito, e não como coisa, Hegel deixa claro que ela tem seu espírito, sua própria vida, é nesse espírito que se encontra o dito movimento dialético, ou melhor, as contrariedades presentes na vida.
Na filosofia hegeliana, a síntese superior da vida, ou seja, uma vida mais perfeita, melhor, só aparece depois que acontece um processo dinâmico de transformações, mutações, que pode envolver dores, aborrecimentos, desagrados, insatisfações. 
Hegel dá um exemplo bem natural para se entender a dialética da vida, ele diz que o botão da flor desaparece no seu florescimento, ao surgir o fruto a flor é declarada falsa, todavia, nesse processo dinâmico é perceptível a unidade orgânica que desencadeia um só movimento dialético na constituição da vida interior.
O que podemos entender com o pensamento dialético de Hegel é que a vida é bem dinâmica, não estática, ela pode nos propor diversos ruídos: bons ou ruins, mas sempre
buscando um equilíbrio em tudo. O nosso crescimento como ser humano, como bom cidadão, depende desse processo dialético, através dele é que podemos enriquecer nossos conhecimentos.
Segundo Hegel a dialética não é um método, como dizia Platão, nem uma substância, mas sim um espírito em constante movimento, daí o motivo do seu desenvolvimento, que se dá da seguinte forma: Em si, fora de si, para si. 
A semente em si é uma planta, ao morrer como semente sai de si, ao voltar ser uma planta é o retorno para si. Esse movimento é marcado pelo devir e pela negação. O devir é  um momento que prepara a chegada de outro momento; na negação o primeiro deixa de existir para que o segundo apareça.
Nesse movimento proposto por Hegel é que está presente a síntese, tese, antítese. Esse filósofo deixa claro que para entender o processo dialético é imprescindível que o ser humano saia da mesmice, do trivial, do comum, e procure um saber absoluto por meio da razão, desse modo pode superar-se.
Acredito que as contrariedades presente no sistema de governo, na educação, na justiça, no respeito para com o próximo, e a crise que o Brasil está enfrentando nesse momento, são processos dialéticos que propõem a cada um de nós a busca por uma vida mais justa, ordeira. A harmonização tão sonhada pelos brasileiros só será alcançada quando todos olharem para si, saírem de si, voltarem para si.
No exemplo de Cristo está claro, sua vida foi marcada por um processo dialético, muitos não entendiam o porquê de sua missão, mas Ele disse que era necessário sair de si para que o mundo tivesse a verdadeira vida. Um texto bíblico que esclarece o processo dialético da vida do grande mestre é esse: 
“Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto”.
Osiel Gomes. 

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