domingo, 6 de dezembro de 2015

A falta de justiça

 A cada instante estamos nos revoltando com o mundo político de hoje, os noticiários e jornais não param de mostrar os inúmeros escândalos nos quais muitos líderes estão envolvidos, e o que pesa mais é saber que os recursos desviados são aqueles que poderiam ajudar na Educação, Saúde, segurança, setores que estão fragmentados em nosso país.
 Mas tudo isso está acontecendo por falta da verdadeira justiça, a qual tem o papel de julgar em conformidade com as leis, fazendo valer o direito de cada um. A verdadeira justiça envolve não somente a questão do conhecimento jurídico, o poder dos tribunais, mais especialmente a consciência de cada pessoa. Quem tem uma boa consciência jamais praticará atos de injustiça, antes dará a cada pessoa aquilo que lhe é de direito, pois essa é a virtude da real justiça.
 A ausência da correta justiça é uma realidade não somente no mundo político, mas também no religioso, no mundo acadêmico, e na vivência prática de cada ser humano. A falta da justiça tem feito com que as pessoas se tornem insensíveis, de modo que cada um procura viver do seu jeito. 
Se a verdadeira justiça estivesse sendo praticada entre os homens, a desigualdade social seria extinta, os pobres e necessitados seriam tratados com amor; os doentes teriam acesso à saúde, os ricos não seriam tão ricos como são hoje, pois onde existe justiça as pessoas são valorizadas, respeitadas.
 O nosso mundo se torna cada vez pior por causa das injustiças; existem pessoas de bom coração, de boa índole, mas que são injustiçadas, daí ficam a pensar que a “vida é que é injusta”, pois não lhe propiciou condições favoráveis para crescer, progredir; pensam que a desigualdade é uma questão de falta de oportunidade, não entendendo que todo esse marasmo é resultado de mundo construído na falta da justiça verdadeira.
 O pensamento de John Rawls, um estudante de Havard, mudou a concepção de muitos sobre a justiça, quando lançou sua obra “Uma teoria da justiça”, jamais pensou que seu trabalho iria ter grande repercussão como teve, influenciando a vida de acadêmicos, literários, advogados, filósofos, tendo uma venda consideravelmente expressiva. 
Rawls foi um combatente da Segunda Guerra Mundial, ele testificou o dia em que a bomba atômica foi lançada sobre a cidade Japonesa Hiroshima. Toda essa experiência truculenta levou esse homem a entender que a guerra não compensa, de modo que ele propôs a ser um defensor da paz e a lutar por um mundo melhor e mais justo. 
Diante do que vivenciou, Rawls procura desenvolver uma teoria sobre a justiça, diferentemente de outros, ele não procurou lutar por meio dos clamores populares, ou buscando um apoio político, mas entendeu que sua arma seria a escrita. O que ele colocava nas páginas de sua obra era o que se passava em sua mente e no seu coração: as pessoas deveriam saber como conviver e entender o porquê do Estado influenciar em suas vidas.
Na filosofia de Rawls o grande problema existente é que as pessoas vivem dois tipos de mundo, aquele que é construído por indivíduos poderosos, os quais pensam em construir uma sociedade apenas com pessoas poderosas, as quais exibem luxo, poder, glória, mas nessa sociedade existem os pobres, os quais não tem nenhuma chance de crescer.

Rawls dizia que o cenário exposto acima gera um tipo de pensamento distorcido e negativo, pois as pessoas passam a entender que o mundo melhor é aquele construído em cima de status, posição, domínio. Rawls propôs o que ele chamava de “a posição original”, que estava firmado em um pensamento mental, no qual as pessoas poderiam idealizar uma sociedade sem pensar no que teria ou seria, mas sim nos princípios justos.
A teoria da justiça proposta por Rawls estaria fincada na base de se escolher sem saber o que o seria, que lugar exerceria na sociedade, mas o que valeria eram dois princípios fundamentais: liberdade e igualdade. Tendo liberdade de crença, de voto, de expressão, as pessoas viveriam de modo mais feliz; essa liberdade não poderia ser tolhida sob hipótese alguma, e sua proteção deveria estar acima de tudo.
Na questão da igualdade, Rawls dizia que a sociedade deveria ser organizada, de modo que procurasse se estruturar para conceder mais privilégios e oportunidades aos menos afortunados, aos pobres, àqueles que tiveram sua liberdade restringida, como no caso dos negros, das mulheres. 
John Rawls pensava em uma sociedade que fosse governada pela consciência da liberdade e igualdade, pois tão somente desse modo as diferenças e injustiças seriam debeladas. Enquanto alguns homens pensarem que uma sociedade verdadeira se constrói com coisas supérfluas, sem atentar para a verdadeira justiça, nós estaremos sempre caminhando para o descompasso da vida que anelamos.
Às vezes se ouve alguém criticar os direitos que os negros estão tendo hoje, mas é bom saber que eles não cresceram por serem mais ou menos ignorantes do que os brancos, mas sim por que sua liberdade foi cerceada, seus valores e crenças foram escamoteados, de modo que ficaram estagnados no meio do caminho.
Uma sociedade marcada pela verdadeira justiça caminha para o progresso, pois ela valoriza a liberdade e a igualdade; quando as pessoas são conscientes de que sua liberdade não é tolhida podem produzir mais, e vivendo sem serem tratadas com indiferentismo, mas respeitadas como cidadãos, fazendo valer seus direitos sociais e jurídicos, então a sociedade avançará mais, esse era um dos pontos fundamentais do Iluminismo.

Osiel Gomes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário