terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Paradoxos

 Paradoxo fala daquilo que é contrário ao comum, absurdo, contrassenso, disparate. Podemos dizer que hoje essa palavra está sendo usada na prática em todos os setores da vida, ainda que de modo inconsciente, porém se percebe o modo leviano em que os problemas relacionados à nossa vida estão sendo tratados. 
O homem cria valores para a vida, mas depois ele mesmo mata. Fala de paz, mas cria a guerra, defende a ética, mas sua conduta é repreensível, fala de bons costumes, mas cria péssimos comportamentos que desestruturam toda a vida em sociedade. Nessa terra o homem é ao mesmo tempo , anjo e demônio, Deus e diabo. Ele cria seu céu e próprio  inferno, pois se encontra em um grande paradoxo.
Nas palavras da doutora Marilyn Ferguson o espírito de nossa época se encontra cheio de paradoxos. É, ao mesmo tempo, pragmático e transcendental; é ao mesmo tempo político e apolítico. 
Para entendemos melhor a questão do paradoxo mister se faz recorrermos ao filósofo matemático e físico Frances Blaise Pascal. Seu pensamento girava em torno da insuficiência humana, segundo ele o homem é magnífico e ao mesmo tempo um miserável, ele pode alcançar grandes verdades como também pode criar vários erros, diante disso pergunta: 
“No fundo, o que é o homem na natureza? É nada em relação ao infinito, é tudo em relação ao nada, algo de intermediário entre o nada e o tudo”.
 Enquanto os outros procuravam dar credito à razão elevando o homem a uma grande posição, pois era assim que se caracterizava o século XVII, aparece esse filósofo com essa ideia, afirmando que o homem não pode conhecer o início de todas as coisas nem também o fim delas, ainda que buscasse essa compreensão e compreender a realidade como tal lhe era impossível. 
Para Pascal o homem está limitado apenas às coisas aparentes, só mesmo o Criador de todas as coisas é quem pode conhecer e compreender tudo, ninguém mais. Enquanto outros filósofos colocavam a razão no pódio, Pascal dizia que a razão humana era incapaz de provar a existência de Deus, nesse particular seu posicionamento contradiz Tomas de Aquino. Segundo Pascal a crença em um Deus que jamais pode ser provada, fica por conta da fé. 
Ele diz que a grandeza da razão está em se render, reconhecer que existe uma infinidade de coisas que ultrapassam nossa razão, por isso ele diz: “o coração, e não a razão, é que sente Deus, isto é a fé: Deus sensível ao coração e não a razão”. 
Pascal se destaca nesse prisma quando ataca os deuses dos filósofos, dos racionalistas, que eles criaram como sendo um engenheiro do mundo, mas depois de criar tudo segue seu caminho em cego mecanicismo. Pascal ataca Descarte, como também o deus geométrico. 
Pascal busca, com o seu pensamento, reativar a mente e o esforço de todos para que se voltem para o Deus de amor e de consolação. Esse Deus que faz com que cada ser humano sinta a sua própria miséria e a misericórdia infinita de Deus. 
 Pascal afirmava que era triste a situação do homem que procura desvendar os mistérios do mundo por meio do seu ver racional, ou seja, por meio da sua visão ilimitada. 
O paradoxo visto no pensamento de Pascal faz parte do contexto do mundo moderno, pois apesar do grande avanço tecnológico, cientifico que o homem trouxe, ele ainda vive no desespero de não poder salvar a si mesmo. Considerado um deus, o homem não pode salvar seu próprio mundo, nisso está provado sua insuficiência. 
Em tempos remotos o homem foi considerado um ser magnífico, sua capacidade racional era louvada, suas descobertas eram aplaudidas como se fosse um deus, mas ao mesmo tempo se sentia um miserável, pois não tinha nem a capacidade de saber quando as coisas começavam e terminavam.
Nota-se o desespero do homem moderno, com todo o saber racional que tem, não poder controlar as mazelas que zurziam a humanidade; pelo seu ver racional não consegue embelezar o mundo caótico diante de si, antes, cada vez mais o vê embabelado, sem considerar a vida, sem valorizar os princípios morais. 
Pascal está certo quando afirma que os paradoxos desse mundo não serão resolvidos através de um ver racional, de uma busca desenfreada pela compreensão daquilo que é incompreensível, pois existem muitas coisas que jamais serão compreendidas por meio da razão, mas que necessita apenas do elemento fé. 
Portanto, a razão humana tem que se render com humildade diante da fé, para poder perceber suas misérias e a necessidade de um ser superior, Deus. Conforme Jesus disse, é na pobreza do nosso espírito que herdaremos o reino dos céus, e seu favor divino se manifesta ao nosso desespero, quando reconhecemos nossa miséria humana. 
Paulo só percebeu a grandeza da graça de Deus quando desceu do seu pedestal racional e judaico, enquanto o seu eu firmava-se nas tradições religiosas e no legalismo, sua vida era um constante paradoxo, mas quando olhou para si e se viu um miserável, pôde então desfrutar da graça salvadora de Deus.
Osiel Gomes.

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