quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Lidando com a Liberdade


O grande legislador Moisés definiu a vida como grande valor, por isso, dentro dos decálogos está bem claro: “Não matarás”. Essa assertiva é universal, contrariá-la é trazer punição para a própria vida. Depois da primeira e segunda Guerra Mundial, diante de tanta carnificina, desrespeito pela vida, diversos estudiosos passaram a questionar sobre o valor da vida e se se de fato valia apenas viver.
A história do presente momento não é diferente, pois quando vemos atos desumanos sendo praticados em nome do poder, das vantagens políticas, religiosas, perguntamos: qual a razão para estarmos neste mundo? A vida tem mesmo um propósito?
Dizem que todo homem é fruto do seu próprio tempo, que não pode viver às margens da realidade que o cerca. Não foi diferente para o filósofo, dramaturgo e biógrafo Jean Paul Sartre (1905-1980), que produziu parte de suas obras em cafés e morou quase sempre em hotéis. 
Um estilo de vida diferente marcava a vida desse homem, ele viveu na companhia de uma mulher bonita e inteligente, tinha caso com ela, mas nunca mourou junto, ela poderia ter outras relações. Simone de Beauvoir era uma amiga íntima de Sartre, essa amizade foi descrita por eles como essencial, as outras eram denominadas por eles de contingentes, ou melhor, eventual.  
Quando a Segunda Guerra terminou Paris foi dominada pelas forças nazistas, isso fez com que a vida francesa ficasse difícil, pois alguns franceses se opuseram à força alemã, mas outros se tornaram traidores, entregando seus amigos para o exército inimigo. Tudo muda quando a Alemanha é derrotada.
Olhando para trás, os homens viram o que a guerra foi capaz de fazer, os males que ela provocou no mundo, então se começou a pensar em que tipo de vida e sociedade o mundo deveria ser construído, e a pergunta que todos faziam era: “Qual o propósito da vida?” Onde está Deus? Eu devo fazer o que os outros esperam que eu faça?
É em meio a esse cenário que aparece Sartre, ele já havia escrito a obra O ser e o nada (1943), que tinha como tema geral a liberdade. Esse livro foi escrito durante a Segunda Guerra Mundial, sua mensagem era dirigida aos franceses, os quais estavam debaixo do poder das forças alemãs, presas em seu próprio país.
O pensamento de Sartre era que o homem não foi criado para fazer nada em particular, e que Deus não o criou, sendo assim, não havia qualquer propósito de um ser divino tê-lo colocado no mundo. Sartre dizia que o ser humano não tinha uma essência, para exemplificar melhor, dizia que um canivete era feito para cortar, essa era sua essência, ao contrário, o homem não tinha nada disso.
Como não havia qualquer modo especial para o ser da existência humana, então o homem poderia escolher o que fazer, e o que queria ser, pois é livre, ninguém decide o que queremos ser e fazer da nossa vida. 
Sartre dizia que quando nós deixamos que uma pessoa escolha ou decida por nós, ainda assim estamos escolhendo, pois nesse caso queremos ser o tipo de pessoa que outros esperam que sejamos. Em se tratando da liberdade em Sartre, ele queria tão somente dizer que você é o principal responsável por ela. Só você pode querer fazer, tentar, e saber reagir diante do fracasso.
Sartre diz que muitas pessoas não sabem lidar com a liberdade, mas procuram fugir dela fingindo ser uma pessoa livre. Esse filósofo dizia que somos responsáveis pelo que somos e fazemos. Se decido estar triste é porque estou escolhendo ser triste, eu sou o responsável dessa tristeza. Viver dessa forma é muito pesado, por isso muitos preferem não encarar a realidade.
Sartre diz que o homem é destinado a ser livre, mas muitos escolhem ser marionete, dançando uma vida nos molde de uma coreografia, não exercendo ser verdadeiro papel de ser humano, mas vive segundo o padrão que outros estabeleceram. Quando o ser humano procede dessa forma Sartre diz que ele está agindo de má fé, fugindo de sua liberdade.
Viver o que os outros determinam é usar uma mascarará, fingir um tipo de liberdade falsa, é viver acreditando na mentira como se ela fosse verdade, além disso, a pessoa não está usando de sua liberdade: ser o que realmente deveria ser. 
Para Sartre a vida humana é marcada pela angústia, em uma de suas palestras sobre “O existencialismo é um humanismo”, deixa claro que o grande problema do homem é que ele não pode dar desculpas, pois ele é responsável por tudo àquilo que faz. Essa angústia se tornar ainda mais maçante quando aquilo que ele faz deve seguir de modelo, padrão para que outros façam com sua própria vida. Por exemplo: se me caso, estou sugerindo que outros façam o esmo, se sou um preguiçoso, outros deveriam ser também.
Agir dessa forma requeira muita responsabilidade, pois as minhas escolhas iriam refletir na vida de outras pessoas. Segundo Sartre toda nossa responsabilidade está atrelada à existência humana, o “Existencialismo” é o peso do pensar filosófico de Sartre, por meio dessa palavra dizia que primeiramente nós nos encontramos no mundo como seres existentes, depois é que podemos decidir o que fazer da nossa vida. Para Sartre nossa existência precede a essência.
Posso dizer que o pensamento sobre a liberdade exposto por Sartre tem seu aspecto verossímil, mas que foi interpretado de modo errado por alguns, pois em nome de uma liberdade subjetiva as pessoas se tornaram exclusivistas, egoístas, donas do seu próprio mundo. O filósofo Paulo falou que uma liberdade exagerada pode levar a libertinagem, fazendo com que muitas pessoas se tornem crápulas, desregrada.
Muitos não evidenciam um verdadeiro amor na prática porque são guiados por uma filosofia existencialista, contrariando o princípio ético e divino, o qual foi falado por Jesus, por que não querem desenvolver uma vida responsável. Hoje vemos muitas pessoas religiosas, como o sacerdote e o levita, mas que passam distantes de quem precisa de ajuda, pois sua liberdade lhe permite fazer o que quiser inclusive, não ajudar quem precisa. 
A liberdade proposta por Jesus não está alicerçada na definição proveniente do próprio sujeito, mas sim em sua Pessoa, por isso Ele disse: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. 
Osiel Gomes.

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